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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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ponte. — Tinha os olhos vermelhos que nem o diabo.<br />

Vicente ficou olhan<strong>do</strong> para o lugar aponta<strong>do</strong> e imaginan<strong>do</strong> uma pessoa com os olhos<br />

vermelhos igual ao diabo.<br />

— Ele foi andan<strong>do</strong> para lá, na direção <strong>do</strong> largo — continuou o balconista. — Já era<br />

tarde, então eu corri e baixei a porta aqui <strong>do</strong> boteco. Moro aqui em cima mesmo.<br />

Tranquei a porta daqui de baixo e subi para o meu apartamento pelos fun<strong>do</strong>s. É um<br />

quarto e sala, é o que me basta.<br />

Vicente olhou para o teto <strong>do</strong> bar, encardi<strong>do</strong> pelos vapores da chapa, teias antigas,<br />

negras, cobertas de poeira e insetos.<br />

— Depois passaram mais, andan<strong>do</strong> juntos. Homem, mulher, até criança eu vi. Vou te<br />

falar uma coisa, fortão, eu fiquei com um me<strong>do</strong> da bexiga. Eu tava lá em cima, olhan<strong>do</strong><br />

pela fresta da veneziana. Apaguei até a luz. Estava bem escuro já, a cidade num silêncio<br />

que eu nunca tinha visto. Era como se to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> estivesse com me<strong>do</strong> desses bichos.<br />

Um zé mané de um mendigo que anda com um carrinho de merca<strong>do</strong> aqui por essas<br />

bandas veio subin<strong>do</strong> a rua, quan<strong>do</strong> se deparou com essa gente esquisita... Cre<strong>do</strong>!<br />

— Conta.<br />

— Eles pularam em cima e começaram a morder ele. O coita<strong>do</strong> amanheceu morto aí<br />

na frente <strong>do</strong> boteco.<br />

— Dá mais uma <strong>do</strong>se aí.<br />

O balconista serviu mais uma generosa <strong>do</strong>se de 51 para encompridar a conversa e<br />

molhou a língua.<br />

— Acho que eles me viram observan<strong>do</strong>, sabe? Dois deles se desgrudaram <strong>do</strong> grupo e<br />

vieram pro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu restaurante. Eu fiquei quieto, sentei no meu sofá e prendi até a<br />

respiração. Pensa num cabra com me<strong>do</strong>.<br />

— E aí?<br />

— Aí que ouvi eles raspan<strong>do</strong> as mãos nessa porta aí. Minha sorte é que, se um<br />

mosquito tosse perto dela, ela faz barulho. Eles ficaram se esfregan<strong>do</strong> nela um tempão,<br />

tentan<strong>do</strong> entrar. Isso é a tal da gente violenta que está no aviso que caiu <strong>do</strong> céu.<br />

— Caramba, velho! Você tá falan<strong>do</strong> sério? Tem gente <strong>do</strong>ida solta na cidade?<br />

— Tem sim.<br />

— E agora, onde eles estão?<br />

— Sei, não. Quan<strong>do</strong> ia chegan<strong>do</strong> a hora de amanhecer eu não vi mais nenhum.<br />

— Quanto é a pinga?<br />

— Dois conto.<br />

— Dá mais uma, então.<br />

Vicente esperou o copo se encher, e então virou num gole só.

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