04.01.2015 Views

O Fututo do Constitucionalismo - Caderno de Resumos [2014][l]

O Fututo do Constitucionalismo - Caderno de Resumos [2014][l]

O Fututo do Constitucionalismo - Caderno de Resumos [2014][l]

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Fundamentos político-filosóficos <strong>do</strong> constitucionalismo • 449<br />

Embora o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong> tenha si<strong>do</strong> acolhi<strong>do</strong> na matriz<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong> Direito, a <strong>de</strong>manda pelo reconhecimento<br />

da importância das concepções <strong>de</strong> vida boa para a realização humana<br />

aparentemente o coloca em xeque. Contu<strong>do</strong>, esse problema adquire<br />

outro contorno quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra a neutralida<strong>de</strong> não como uma<br />

postura <strong>de</strong> tolerância pela indiferença, mas uma postura <strong>de</strong> tolerância<br />

pelo reconhecimento <strong>do</strong> outro e da importância <strong>do</strong> direito que cada<br />

um tem <strong>de</strong> perseguir seus objetivos <strong>de</strong> vida e realizar sua existência<br />

segun<strong>do</strong> valores que lhe são peculiares.<br />

Além <strong>de</strong> garantir a liberda<strong>de</strong> negativa, que se refere à não-interferência<br />

nos direitos e liberda<strong>de</strong>s fundamentais, é preciso fomentar<br />

a autonomia política <strong>do</strong>s indivíduos, tornan<strong>do</strong>-os cidadãos capazes<br />

<strong>de</strong> argumentar politicamente a partir <strong>de</strong> argumentos razoáveis, <strong>do</strong>s<br />

quais estão excluí<strong>do</strong>s aqueles que se baseiam exclusivamente em concepções<br />

morais ou religiosas, cujos conflitos são insolúveis. Tal autonomia<br />

só é possível quan<strong>do</strong> se reconhece o outro como um ser humano<br />

igual, cuja existência é permeada também por me<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>sejos<br />

guia<strong>do</strong>s por concepções <strong>de</strong> vida boa. Para isso, a experiência literária<br />

po<strong>de</strong> contribuir significativamente.<br />

Segun<strong>do</strong> Martha Nussbaum, a literatura possui relevante papel<br />

a exercer na esfera pública como instrumento para a formação <strong>de</strong><br />

cidadãos comprometi<strong>do</strong>s com o bem-estar alheio. Isso é possível porque<br />

a experiência da leitura <strong>de</strong> romances, em razão da forma como<br />

o discurso se <strong>de</strong>senvolve, é capaz <strong>de</strong> ativar a imaginação literária <strong>do</strong><br />

leitor e provocar nele a i<strong>de</strong>ntificação empática com a sorte das personagens<br />

(NUSSBAUM, 1997).<br />

A peculiarida<strong>de</strong> da contribuição da literatura para o reconhecimento<br />

<strong>do</strong> outro situa-se precisamente na formação <strong>de</strong> um elo emocional<br />

entre o leitor e as personagens envolvidas na trama. A imaginação<br />

literária possibilita que o leitor “sinta” o que significa estar na<br />

situação <strong>de</strong> outra pessoa, levan<strong>do</strong>-o a compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais<br />

abrangente o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> diversas escolhas valorativas.<br />

A neutralida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser melhor compreendida pela ótica <strong>do</strong><br />

“especta<strong>do</strong>r judicioso”, a saber, daquele que, embora se relacione

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!