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O Hypercluster da Economia do Mar.

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Cenário de desenvolvimento frustra<strong>do</strong><br />

O quadro de possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong> desenvolvimento frustra<strong>do</strong> corresponde à combinação para<strong>do</strong>xal de uma estratégia correcta e ambiciosa, com<br />

uma interpretação adequa<strong>da</strong> <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> presente e com a identificação de objectivos realizáveis no futuro, mas que não foi<br />

complementa<strong>da</strong> com a organização <strong>do</strong>s dispositivos e com a a<strong>do</strong>pção de comportamentos que seriam necessários para concretizar aquela<br />

estratégia. Houve visão estratégica, mas não houve capaci<strong>da</strong>de organizativa nem mobilização colectiva para o trabalho <strong>da</strong> regeneração.<br />

O facto de se dispor de uma linha de orientação adequa<strong>da</strong> teria sempre efeitos positivos, mas apenas em alguns sectores que passaram a<br />

operar de mo<strong>do</strong> autónomo e integra<strong>do</strong>s em redes com centro no exterior, e que foram aqueles que tinham consegui<strong>do</strong> instalar os seus<br />

próprios dispositivos de concepção estratégica e que conseguiram motivar a alteração <strong>do</strong>s comportamentos dentro <strong>da</strong> sua área de influência.<br />

Mas não haven<strong>do</strong> esses dispositivos e essas mu<strong>da</strong>nças de comportamentos nas outras zonas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, não se fez sentir o efeito de<br />

difusão de novos comportamentos e de novas práticas que constitui a modernização consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> e que estava pressuposta na estratégia<br />

correcta e ambiciosa que foi a<strong>do</strong>pta<strong>da</strong>, mas que não foi devi<strong>da</strong>mente complementa<strong>da</strong>. E porque faltou este efeito complementar, o facto de se<br />

conhecer a estratégia adequa<strong>da</strong> acabou por perder o seu impulso, fican<strong>do</strong> a ser apenas pretextos para querelas e disputas sobre como se<br />

deveria aplicar a estratégia e sobre quem foram os responsáveis pela frustração <strong>da</strong>s expectativas e pela per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des.<br />

Não foi a primeira vez na sua história que Portugal teve acesso a uma estratégia adequa<strong>da</strong> de desenvolvimento e perdeu essa oportuni<strong>da</strong>de<br />

por deficiência de racionalização <strong>do</strong>s seus decisores e <strong>do</strong>s que representam os principais grupos de interesses <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, por falta de<br />

dispositivos e de organizações adequa<strong>da</strong>s, por descoordenação entre a vontade estratégica e os meios instrumentais que a concretizem. Um<br />

cálculo incorrecto de ganhos e per<strong>da</strong>s ou uma escolha <strong>do</strong> intervalo temporal de referência demasia<strong>do</strong> curto podem ser factores com peso<br />

suficiente para que se perca a perspectiva <strong>da</strong>s vantagens de longo prazo, assim se desperdiçan<strong>do</strong> em conflitos distributivos de curto prazo o<br />

que deveria ser salvaguar<strong>da</strong><strong>do</strong> para maiores benefícios a longo prazo.<br />

Neste quadro de possibili<strong>da</strong>des, o enquadramento europeu não foi favorável a Portugal. Em termos estruturais, a necessi<strong>da</strong>de de uma<br />

transição com mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s padrões de referenciação e de expectativas sociais era idêntica em Portugal e na Europa. Em termos temporais,<br />

porém, o intervalo de oportuni<strong>da</strong>de para Portugal era mais curto porque o seu menor grau de desenvolvimento acentuou as dificul<strong>da</strong>des para<br />

absorver os desequilíbrios que continuavam, inexoravelmente, a ser gera<strong>do</strong>s pelos dispositivos de políticas sociais e pelas expectativas que<br />

foram instala<strong>do</strong>s e que foram cria<strong>da</strong>s nas condições <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Mesmo que as socie<strong>da</strong>des mais desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa realizassem com<br />

êxito a sua transição, esta aconteceria mais tarde <strong>do</strong> que seria útil para aju<strong>da</strong>r Portugal a sair <strong>do</strong> seu quadro de desenvolvimento frustra<strong>do</strong>.<br />

Sem meios instrumentais para explorar as suas oportuni<strong>da</strong>des, Portugal deixou-as à disposição de centros de racionalização externos que<br />

não deixaram de as integrar nos seus programas estratégicos. Em vez de ter estrutura<strong>do</strong> alianças e estabeleci<strong>do</strong> redes de cooperação,<br />

Portugal, em consequência <strong>do</strong> seu bloqueamento interno, gerou concorrentes, mais interessa<strong>do</strong>s em manter Portugal nesse esta<strong>do</strong> de<br />

bloqueamento <strong>do</strong> que em aju<strong>da</strong>r à sua recuperação. E os interesses internos, reconhecen<strong>do</strong> as suas limitações, optaram por servir de<br />

intermediação a essas iniciativas externas, transferin<strong>do</strong> essas oportuni<strong>da</strong>des para centros de decisão externos em troca de uma remuneração<br />

superior à que esperavam obter na gestão directa dessas uni<strong>da</strong>des empresariais. No fim <strong>do</strong> primeiro quartel <strong>do</strong> século XXI, Portugal tinha um<br />

rendimento per capita superior ao que tinha no início <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, mas muito inferior ao que era o seu crescimento potencial. Neste quadro de<br />

possibili<strong>da</strong>des, Portugal iludiu-se, quis ignorar a reali<strong>da</strong>de. Depois de ter consegui<strong>do</strong> formular uma estratégia correcta de correcção <strong>do</strong>s<br />

desequilíbrios e de recuperação <strong>do</strong> crescimento, os responsáveis não conseguiram difundir essa linha de orientação pela socie<strong>da</strong>de e<br />

conduziram à per<strong>da</strong> <strong>do</strong>s centros de decisão que seriam os instrumentos essenciais de realização <strong>da</strong> estratégia de regeneração.<br />

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O <strong>Hypercluster</strong> <strong>da</strong> <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong><br />

Relatório Final | 17.Fevereiro.2009

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