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O Hypercluster da Economia do Mar.

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Os recursos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> foram, em grande parte, aplica<strong>do</strong>s para satisfazer as dependências e as expectativas cria<strong>da</strong>s pelas políticas<br />

públicas de protecção social e de distribuição de rendimentos, colocan<strong>do</strong> em segun<strong>do</strong> plano o critério <strong>do</strong> retorno ou <strong>da</strong> rentabili<strong>da</strong>de<br />

obti<strong>da</strong> com a aplicação desses recursos. O argumento central invoca<strong>do</strong> para estas decisões políticas foi o de que não podiam deixar de<br />

ser satisfeitas essas necessi<strong>da</strong>des sociais, sob pena de uma grave instabili<strong>da</strong>de que prejudicaria o crescimento económico. Como estes<br />

recursos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> são obti<strong>do</strong>s por impostos e por taxas, tiveram de ser retira<strong>do</strong>s ao rendimento disponível <strong>da</strong>s famílias, saíram <strong>do</strong><br />

circuito económico primário e diminuíram o crescimento potencial porque não houve um aumento significativo <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de. O<br />

crescimento económico anual não foi suficiente para aumentar as receitas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a equilibrar as suas despesas crescentes<br />

com as políticas públicas (nas funções sociais, nas funções de investimento e nas funções de segurança e defesa), pelo que a diferença<br />

apareceu reflecti<strong>da</strong> no défice orçamental, acumulan<strong>do</strong>-se na forma de dívi<strong>da</strong> pública e na transferência <strong>da</strong>s consequentes<br />

responsabili<strong>da</strong>des para as gerações futuras.<br />

As famílias, consideran<strong>do</strong>-se protegi<strong>da</strong>s pelos dispositivos de políticas sociais instala<strong>do</strong>s com financiamento e gestão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

estabeleceram as suas preferências em termos de consumo e de endivi<strong>da</strong>mento para aquisição de bens de consumo imediato ou bens<br />

dura<strong>do</strong>uros, na perspectiva <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de de uma taxa de juro baixa. Foi uma aposta arrisca<strong>da</strong> porque estava assente na continui<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s condições iniciais por um prazo muito longo, <strong>da</strong> ordem de uma geração, que não tinha flexibili<strong>da</strong>de para se ajustar a mu<strong>da</strong>nças no<br />

padrão de modernização ou no padrão demográfico. De facto, a baixa taxa de juro não era um sinal de virtude económica portuguesa,<br />

mas um efeito automático <strong>da</strong> participação na moe<strong>da</strong> única europeia, uma variável que não era controlável internamente. Quan<strong>do</strong> as<br />

expectativas de continui<strong>da</strong>de no crescimento económico e nas baixas taxas de juro não se confirmaram, os desajustamentos entre os<br />

rendimentos obti<strong>do</strong>s e os encargos assumi<strong>do</strong>s tiveram de ser resolvi<strong>do</strong>s através de um endivi<strong>da</strong>mento crescente.<br />

Quan<strong>do</strong> a crise económica se acentuou por per<strong>da</strong> de merca<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s empresas que operavam em relações competitivas, por debili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s organizações que não se a<strong>da</strong>ptaram às novas condições económicas e por custos unitários <strong>do</strong> trabalho excessivos, os seus efeitos<br />

no desemprego tornaram evidentes os desequilíbrios que estavam ocultos. O fluxo de endivi<strong>da</strong>mento passa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s famílias, conjuga<strong>do</strong><br />

com os défices orçamentais crescentes em resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> crescimento <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des com o financiamento <strong>da</strong>s políticas sociais,<br />

conduziu a crise económica até à vizinhança <strong>do</strong> ponto de ruptura, forman<strong>do</strong> uma espiral recessiva porque não havia meios financeiros<br />

suficientes para alimentar o consumo, para pagar os investimentos, para manter as políticas públicas e para servir a dívi<strong>da</strong> pública e<br />

priva<strong>da</strong>.<br />

Nas empresas, as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno (por insuficiência <strong>da</strong> procura e por distorção <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s públicos em resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

conveniências políticas) e as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> externo (por pressão competitiva crescente <strong>da</strong>s economias emergentes nos<br />

produtos de gama média e baixa, mais sensíveis aos valores <strong>do</strong> custo unitário <strong>do</strong> trabalho) adicionaram-se aos desequilíbrios existentes<br />

nas suas estruturas de capital, decorrentes <strong>do</strong> processo de nacionalizações (que apropriou recursos de capital para o Esta<strong>do</strong>) e <strong>da</strong>s<br />

privatizações (que trocou as posições de capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por receitas transferi<strong>da</strong>s para os agentes priva<strong>do</strong>s, muitos <strong>do</strong>s quais tiveram<br />

de contrair dívi<strong>da</strong> para recuperarem posições de capital pelas quais não tinham si<strong>do</strong> indemniza<strong>do</strong>s depois <strong>da</strong>s nacionalizações). Os novos<br />

centros empresariais configura<strong>do</strong>s após as nacionalizações puderam evoluir exploran<strong>do</strong> o vazio de grupos priva<strong>do</strong>s com dimensão, mas o<br />

intervalo temporal curto para acumulação de capital foi demasia<strong>do</strong> curto para ganharem consistência estratégica e as condições<br />

desfavoráveis de um crescimento económico lento na economia portuguesa não lhes permitiram ganhar a dimensão adequa<strong>da</strong> para<br />

atingirem a autonomia estratégica.<br />

O <strong>Hypercluster</strong> <strong>da</strong> <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong><br />

Relatório Final | 17.Fevereiro.2009

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