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O Hypercluster da Economia do Mar.

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Esta combinação de factores fez com que as empresas portuguesas ficassem vulneráveis à per<strong>da</strong> de quotas de merca<strong>do</strong>, à<br />

deslocalização <strong>do</strong> investimento externo, à necessi<strong>da</strong>de de investir no exterior para recuperar condições competitivas e à dependência<br />

<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s bens não transaccionáveis ou <strong>do</strong>s contratos com o Esta<strong>do</strong>. Em geral, a resposta responsáveis empresariais<br />

portugueses aos efeitos <strong>do</strong>s sucessivos condicionalismo a que estiveram sujeitos foi a de se tornarem mais propensos à ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

suas posições de capital <strong>do</strong> que à sua defesa e consoli<strong>da</strong>ção. Aliás, o merca<strong>do</strong> de capitais reflectiu essa propensão, registan<strong>do</strong><br />

subi<strong>da</strong>s de cotações mais acentua<strong>da</strong>s perante rumores de aquisição de empresas <strong>do</strong> que perante o anúncio de resulta<strong>do</strong>s positivos.<br />

Este processo de degra<strong>da</strong>ção consistente estruturou uma lógica interna inexorável. Em condições normais, a trajectória descendente<br />

encontraria o seu limite ao atingir o ponto de ruptura porque o crescimento económico se tornava negativo ou porque agentes externos<br />

interferiam interrompen<strong>do</strong> os fluxos de crédito ou provocan<strong>do</strong> uma crise cambial. No caso <strong>da</strong> evolução de Portugal, desde a sua<br />

integração na Comuni<strong>da</strong>de Europeia, porém, estes dispositivos normais de regulação e de correcção deixaram de estar operacionais.<br />

Por um la<strong>do</strong>, o crescimento económico foi estimula<strong>do</strong> artificialmente pelas transferências de fun<strong>do</strong>s comunitários e pela permissão de<br />

endivi<strong>da</strong>mento. Se a taxa de crescimento real é a taxa nominal menos a taxa de inflação, também há uma taxa de crescimento efectivo<br />

que é o crescimento real desconta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s transferências comunitárias, <strong>do</strong> défice orçamental deduzi<strong>da</strong>s as despesas de investimento,<br />

<strong>do</strong> endivi<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s particulares e <strong>do</strong> endivi<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s empresas que não seja aplica<strong>do</strong> em investimento. Na economia<br />

portuguesa, esta taxa de crescimento efectiva foi negativa, mas a população não o sentiu e os responsáveis políticos não o<br />

reconheceram porque apenas precisavam de ter em conta a taxa de crescimento real. Por outro la<strong>do</strong>, a moe<strong>da</strong> única europeia<br />

funcionou como uma protecção <strong>do</strong>s desequilíbrios económicos portugueses. Em tese geral, a disciplina <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> única é um<br />

constrangimento e um regula<strong>do</strong>r imperativo desses desequilíbrios. Na prática, to<strong>da</strong>via, enquanto as sanções não são aplica<strong>da</strong>s,<br />

funciona a protecção e não se sente a penalização.<br />

A resultante final desta interrelação de processos distintos que ocultaram a trajectória descendente foi a deslocação <strong>do</strong> ponto de<br />

ruptura para o futuro. Contu<strong>do</strong>, não foi a sua superação, pois o que se fez foi concentrar uma pressão destrutiva superior que será<br />

mais difícil de absorver quan<strong>do</strong> já não for possível deslocar mais o ponto de ruptura. Quan<strong>do</strong> ocorrer esse momento crítico <strong>da</strong><br />

descontinui<strong>da</strong>de, a confluência <strong>do</strong>s três fluxos de endivi<strong>da</strong>mento – <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>da</strong>s famílias e <strong>da</strong>s empresas – desencadeará uma forte<br />

turbulência, mas esse é o passo necessário para que se possa iniciar a regeneração. O quadro de possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção<br />

consistente, em que Portugal se enganou a si próprio, não evolui para uma reinvenção ou para uma refun<strong>da</strong>ção, nem para o<br />

reconhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que permita a configuração de organizações e instituições eficientes. Depois <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção consistente,<br />

a regeneração e a recuperação exigem uma reprogramação que reformule os referenciais de orientação que estão difundi<strong>do</strong>s na<br />

socie<strong>da</strong>de portuguesa.<br />

O <strong>Hypercluster</strong> <strong>da</strong> <strong>Economia</strong> <strong>do</strong> <strong>Mar</strong><br />

Relatório Final | 17.Fevereiro.2009<br />

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