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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

durante muito tempo acerca deste assunto. Livre-se vossa majestade imperial, de uma<br />

vez, deste homem. Não fez Sigismundo com que João Huss fosse queimado? Não somos<br />

obrigados a dar nem a observar o salvo-conduto de um herege.” “Não”, disse o<br />

imperador; “devemos cumprir nossa promessa.” -D’Aubigné. Decidiu-se, portanto, que o<br />

reformador fosse ouvido.<br />

A cidade toda se achava sôfrega por ver este homem notável, e uma multidão de<br />

visitantes logo encheu suas estalagens. Lutero havia-se apenas restabelecido de<br />

enfermidade recente; estava cansado da jornada, que levara duas semanas inteiras;<br />

deveria prepararse para enfrentar os momentosos acontecimentos do dia seguinte, e<br />

necessitava de sossego e repouso. Tão grande, porém, era o desejo de o ver, que havia ele<br />

gozado apenas o descanso de algumas horas quando ao seu redor se reuniram avidamente<br />

nobres, cavalheiros, sacerdotes e cidadãos. Entre estes se encontravam muitos dos nobres<br />

que tão ousadamente haviam pedido ao imperador uma reforma contra os abusos<br />

eclesiásticos e que, diz Lutero, “se tinham todos libertado por meu evangelho.” -Vida e<br />

Tempos de Lutero, de Martyn. Inimigos, bem como amigos foram ver o intrépido monge.<br />

Ele, porém, os recebeu com calma inabalável, respondendo a todos com dignidade e<br />

sabedoria. Seu porte era firme e corajoso. O rosto, pálido e magro, assinalado com traços<br />

de trabalhos e enfermidade, apresentava uma expressão amável e mesmo alegre. A<br />

solenidade e ardor profundo de suas palavras conferiam-lhe um poder a que mesmo seus<br />

inimigos não podiam resistir completamente. Tanto amigos como adversários estavam<br />

cheios de admiração. Alguns estavam convictos de que uma influência divina o<br />

acompanhava; outros declaravam, como fizeram os fariseus em relação a Cristo: “Ele tem<br />

demônio.”<br />

No dia seguinte, Lutero foi chamado para estar presente à Dieta. Designou-se um<br />

oficial imperial para conduzi-lo até ao salão de audiência; foi, contudo, com dificuldade<br />

que ele atingiu o local. Todas as ruas estavam cheias de espectadores, ávidos de ver o<br />

monge que ousara resistir à autoridade do papa. Quando estava para entrar à presença de<br />

seus juízes, um velho general, herói de muitas batalhas, disse-lhe amavelmente: “Pobre<br />

monge, pobre monge, vais agora assumir posição mais nobre do que eu ou quaisquer<br />

outros capitães já assumimos nas mais sanguinolentas de nossas batalhas! Mas, se tua<br />

causa é justa, e estás certo disto, vai avante em nome de Deus e nada temas. Deus não te<br />

abandonará.” -D’Aubigné.<br />

Finalmente Lutero se achou perante o concílio. O imperador ocupava o trono. Estava<br />

rodeado das mais ilustres personagens do império. Nunca homem algum comparecera à<br />

presença de uma assembléia mais importante do que aquela diante da qual Martinho<br />

Lutero deveria responder por sua fé. “Aquela cena era por si mesma uma assinalada<br />

vitória sobre o papado. O papa condenara o homem, e agora estava ele em pé, diante de<br />

um tribunal que, por esse mesmo ato, se colocava acima do papa. Este o havia posto sob

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