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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

Suas palavras não foram destituídas de efeito. No dia que se seguiu à resposta de<br />

Lutero, Carlos fez com que fosse apresentada uma mensagem à Dieta, anunciando sua<br />

resolução de prosseguir com a política de seus predecessores, mantendo e protegendo a<br />

religião católica. Visto que Lutero se recusara a renunciar a seus erros, seriam<br />

empregadas as mais rigorosas medidas contra ele e contra as heresias que ensinava. “Um<br />

simples monge, transviado por sua própria loucura, levantou-se contra a fé da<br />

cristandade. Para deter tal impiedade, sacrificarei meus reinos, meus tesouros, meus<br />

amigos, meu corpo, meu sangue, minha alma e minha vida. Estou para despedir o<br />

agostiniano Lutero, proibindo-lhe causar a menor desordem entre o povo; procederei<br />

então contra ele e seus adeptos como hereges contumazes, pela excomunhão, pelo<br />

interdito e por todos os meios calculados para destruí-los. Apelo para os membros dos<br />

Estados a que se portem como fiéis cristãos.” -D’Aubigné. Não obstante, o imperador<br />

declarou que o salvo conduto de Lutero deveria ser respeitado, e que, antes de se poder<br />

instituir qualquer processo contra ele, deveria ser-lhe permitido chegar a casa em<br />

segurança.<br />

Insistiam agora os membros da Dieta em duas opiniões contrárias. Os emissários e<br />

representantes do papa, de novo pediam que o salvo-conduto do reformador fosse<br />

desrespeitado. “O Reno”, diziam eles, “deveria receber suas cinzas, como recebeu as de<br />

João Huss, há um século.” -D’Aubigné. Príncipes alemães, porém, conquanto fossem eles<br />

próprios romanistas e inimigos declarados de Lutero, protestavam contra tal brecha da<br />

pública fé, como uma nódoa sobre a honra da nação. Apontavam para as calamidades que<br />

se seguiram à morte de Huss e declaravam que não ousavam atrair sobre a Alemanha e<br />

sobre a cabeça de seu jovem imperador, a repetição daqueles terríveis males.<br />

O próprio Carlos, respondendo à vil proposta, disse: “Embora fossem a honra e a fé<br />

banidas do mundo todo, deveriam encontrar um refúgio no coração dos príncipes.” -<br />

D’Aubigné. Houve ainda insistência por parte dos mais encarniçados inimigos papais de<br />

Lutero, a fim de tratar o reformador como Sigismundo fizera com Huss -abandonando-o à<br />

mercê da igreja; mas lembrando-se da cena em que Huss, em assembléia pública,<br />

apontara a suas cadeias e lembrara ao monarca a sua fé empenhada, Carlos V declarou:<br />

“Eu não gostaria de corar como Sigismundo.” -(Ver História do Concílio de Constança,<br />

de Lenfant.)<br />

Não obstante, Carlos havia deliberadamente rejeitado as verdades apresentadas por<br />

Lutero. “Estou firmemente resolvido a imitar o exemplo de meus maiores”, escreveu o<br />

monarca. Decidira não sair da senda do costume, mesmo para andar nos caminhos da<br />

verdade e justiça. Porque seus pais o fizeram, ele apoiaria o papado, com toda a sua<br />

crueldade e corrupção. Assim, assumiu sua posição, recusando-se a aceitar qualquer luz<br />

em acréscimo à que seus pais haviam recebido, ou cumprir qualquer dever que eles não<br />

cumpriram. Muitos hoje se apegam de modo idêntico aos costumes e tradições de seus

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