21.04.2023 Views

Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

E então, Wittenberg mesmo, o próprio centro da Reforma, estava rapidamente a cair<br />

sob o poder do fanatismo e da anarquia. Esta terrível condição não resultara dos ensinos<br />

de Lutero; mas por toda a Alemanha seus inimigos o estavam acusando disso. Em<br />

amargura d’alma ele algumas vezes perguntou: “Poderá, então, ser esse o fim desta<br />

grande obra da Reforma?” -D’Aubigné. De novo, lutando com Deus em oração, encheuse-lhe<br />

de paz a alma. “A obra não é minha, mas Tua”, disse ele; “não permitirás que ela<br />

se corrompa pela superstição ou fanatismo.” Mas o pensamento de permanecer por mais<br />

tempo afastado do conflito, numa crise tal, tornou-se-lhe insuportável. Resolveu voltar a<br />

Wittenberg.<br />

Sem demora iniciou a perigosa viagem. Achava-se sob a condenação do império. Os<br />

inimigos tinham a liberdade de tirar-lhe a vida; aos amigos era vedado auxiliá-lo ou<br />

abrigá-lo. O governo imperial estava adotando as mais enérgicas medidas contra seus<br />

adeptos. Ele, porém, via que a obra do evangelho estava perigando, e em nome do Senhor<br />

saiu destemidamente para batalhar pela verdade. Em carta ao eleitor, depois de declarar<br />

seu propósito de deixar Wartburgo, Lutero disse: “Seja Vossa Alteza cientificado de que<br />

vou a Wittenberg sob uma proteção muito mais elevada do que a de príncipes e eleitores.<br />

Não penso em solicitar o apoio de Vossa Alteza, e longe de desejar sua proteção, eu<br />

mesmo, antes, o protegerei. Se eu soubesse que Vossa Alteza poderia ou quereria<br />

proteger-me, não iria de maneira nenhuma a Wittenberg. Não há espada que possa<br />

favorecer esta causa. Deus somente deve fazer tudo sem o auxílio ou cooperação do<br />

homem. Aquele que tem a maior fé, é o que é mais capaz de proteger.” -D’Aubigné.<br />

Em segunda carta, escrita em caminho para Wittenberg, Lutero acrescentou: “Estou<br />

pronto para incorrer no desagrado de Vossa Alteza e na ira do mundo inteiro. Não são os<br />

habitantes de Wittenberg minhas ovelhas? Não as confiou Deus a mim? E não deveria eu,<br />

sendo necessário, expor-me à morte por sua causa? Demais, temo ver um terrível levante<br />

na Alemanha, pelo qual Deus punirá nossa nação.” -D’Aubigné.<br />

Com grande cautela e humildade, se bem que com decisão e firmeza, entrou em seu<br />

trabalho. “Pela Palavra”, disse ele, “devemos vencer e destruir o que foi estabelecido pela<br />

violência. Não farei uso da força contra os supersticiosos e incrédulos. ... Ninguém deve<br />

ser constrangido. A liberdade é a própria essência da fé.” -D’Aubigné. Logo rumorejou<br />

em toda Wittenberg que Lutero voltara, e que deveria pregar. O povo congregou-se de<br />

todas as direções, e a igreja transbordou. Subindo ao púlpito, com grande sabedoria e<br />

mansidão, instruiu, exortou e reprovou. Abordando o procedimento de alguns que haviam<br />

recorrido a medidas violentas para abolir a missa, disse: “A missa é coisa má; Deus Se<br />

opõe a ela; deve ser abolida; e eu gostaria que no mundo inteiro fosse substituída pela<br />

Ceia do evangelho. Mas que ninguém seja dela arrancado pela força. Devemos deixar o<br />

caso nas mãos de Deus. Sua Palavra deve agir, e não nós. E por que assim? perguntareis.<br />

Porque eu não retenho o coração dos homens em minhas mãos, como o oleiro retém o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!