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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

“Não poupavam casa, grande ou pequena, nem mesmo os colégios da Universidade de<br />

Paris. ... Morin fez abalar toda a cidade. ... Era o reinado do terror.” -História da Reforma<br />

no Tempo de Calvino, de D’Aubigné.<br />

As vítimas foram mortas com tortura cruel, sendo ordenado especialmente que o fogo<br />

fosse abaixado, a fim de prolongar-lhes a agonia. Morreram, porém, como vencedores.<br />

Sua constância foi inabalável, imperturbada sua paz. Os perseguidores, impotentes para<br />

abalar-lhes a inflexível firmeza, sentiram-se derrotados. “Os cadafalsos foram<br />

distribuídos por todos os bairros de Paris, e as fogueiras arderam durante dias sucessivos,<br />

no intuito de, espalhando as execuções, espalhar o terror da heresia. A vantagem,<br />

entretanto, ficou afinal com o evangelho. Toda Paris habilitou-se a ver que espécie de<br />

homens as novas opiniões produziram. Não havia púlpito como a fogueira do mártir. A<br />

serena alegria que iluminava o rosto daqueles homens, ao se encaminharem ... para o<br />

lugar da execução; seu heroísmo, estando eles entre as chamas atrozes; seu meigo perdão<br />

às injúrias, em não poucos casos transformavam a cólera em piedade e o ódio em amor,<br />

pleiteando com irresistível eloqüência em prol do evangelho.” -Wylie.<br />

Os padres, dispostos a conservar em seu auge a fúria popular, faziam circular as mais<br />

terríveis acusações contra os protestantes. Eram acusados de conspirar para o massacre<br />

dos católicos, subverter o governo e assassinar o rei. Nem uma sombra sequer de provas<br />

podiam aduzir em apoio das alegações. No entanto, aquelas profecias de males deveriam<br />

ter cumprimento; sob circunstâncias, porém, muito diversas e por causas de caráter<br />

oposto. As crueldades que foram pelos católicos infligidas aos inocentes protestantes,<br />

acumularam um peso de retribuições e, séculos depois, ocasionaram a mesma sorte que<br />

eles haviam predito estar iminente sobre o rei, seu governo e seus súditos; mas<br />

produziram-na os incrédulos e os próprios romanistas. Não foi o estabelecimento do<br />

protestantismo, mas sim a sua supressão que, trezentos anos mais tarde, deveria trazer<br />

sobre a França essas horrendas calamidades.<br />

Suspeita, desconfiança e terror invadiam agora todas as classes da sociedade. Entre o<br />

alarma geral, viu-se quão profundamente o ensino luterano se havia apoderado do espírito<br />

dos homens que mais se distinguiam pela educação, influência e excelência de caráter.<br />

Cargos de confiança e honra foram subitamente encontrados vagos. Artífices,<br />

impressores, estudantes, professores das universidades, autores e mesmo cortesãos,<br />

desapareceram. Centenas fugiram de Paris, constituindo-se voluntariamente exilados de<br />

sua terra natal, dando assim em muitos casos a primeira demonstração de que favoreciam<br />

a fé reformada. Os romanistas olharam em redor de si com espanto, ao pensar nos<br />

hereges que, sem o suspeitarem, haviam sido tolerados entre eles. Sua raiva foi<br />

descarregada nas multidões de vítimas mais humildes que estavam a seu alcance. As<br />

prisões ficaram repletas, e o próprio ar parecia obscurecido com o fumo de fogueiras a<br />

arder, acesas para os que professavam o evangelho.

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