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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

Onze anos depois do estabelecimento da primeira colônia, Roger Williams veio ao<br />

Novo Mundo. Semelhantemente aos primeiros peregrinos, viera para gozar de liberdade<br />

religiosa; mas, divergindo deles, viu (o que tão poucos em seu tempo já haviam visto)<br />

que esta liberdade é direito inalienável de todos, seja qual for o credo professado. E era<br />

ele fervoroso inquiridor da verdade, sustentando, juntamente com Robinson, ser<br />

impossível que toda a luz da Palavra de Deus já houvesse sido recebida. Williams “foi a<br />

primeira pessoa da cristandade moderna a estabelecer o governo civil sobre a doutrina da<br />

liberdade de consciência, da igualdade de opiniões perante a lei.” Bancroft. Declarou ser<br />

o dever do magistrado restringir o crime, mas nunca dominar a consciência. “O público<br />

ou os magistrados podem decidir”, disse, “o que é devido de homem para homem; mas,<br />

quando tentam prescrever os deveres do homem para com Deus, estão fora de seu lugar, e<br />

não poderá haver segurança; pois é claro que, se o magistrado tem esse poder, pode<br />

decretar um conjunto de opiniões ou crenças hoje e outro amanhã, como tem sido feito na<br />

Ingl<strong>ate</strong>rra por diferentes reis e rainhas, e por diferentes papas e concílios na Igreja<br />

Romana, de maneira que semelhante crença degeneraria em acervo de confusão.” -<br />

Martyn.<br />

A assistência aos cultos da igreja oficial era exigida sob pena de multa ou prisão.<br />

“Williams reprovou a lei; o pior regulamento do Código inglês era o que tornava<br />

obrigatória a assistência à igreja da paróquia. Obrigar os homens a unirem-se aos de<br />

credo diferente, considerava ele como flagrante violação de seus direitos naturais; arrastar<br />

ao culto público os irreligiosos e os que não queriam, apenas se assemelhava a exigir a<br />

hipocrisia. ... ‘Ninguém deveria ser obrigado a fazer culto’, acrescentava ele, ‘ou custear<br />

um culto, contra a sua vontade.’ ‘Pois quê?’ exclamavam seus antagonistas, <strong>ate</strong>rrados<br />

com os seus dogmas, ‘não é o obreiro digno de seu salário?’ ‘Sim’, replicou ele, ‘dos que<br />

o assalariam.’” -Bancroft.<br />

Roger Williams era respeitado e amado como ministro fiel e homem de raros dons, de<br />

inflexível integridade e verdadeira benevolência; contudo, sua inabalável negação do<br />

direito dos magistrados civis à autoridade sobre a igreja, e sua petição de liberdade<br />

religiosa, não podiam ser toleradas. A aplicação desta nova doutrina, dizia-se<br />

insistentemente, “subverteria o fundamento do Estado e do governo do país.” -Bancroft.<br />

Foi sentenciado a ser banido das colônias, e finalmente, para evitar a prisão, obrigado a<br />

fugir para a floresta virgem, debaixo do frio e das tempestades do inverno. “Durante<br />

catorze semanas”, diz ele, “fui dolorosamente torturado pelas inclemências do tempo,<br />

sem saber o que era pão ou cama. Mas os corvos me alimentaram no deserto.” E uma<br />

árvore oca muitas vezes lhe serviu de abrigo. -Martyn. Assim continuou a penosa fuga<br />

através da neve e das florestas, até que encontrou refúgio numa tribo indígena, cuja<br />

confiança e afeição conquistara enquanto se esforçava por lhes ensinar as verdades do<br />

evangelho. Tomando finalmente, depois de meses de sofrimentos e vagueações, rumo às

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