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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

obrigado a submeter à prova o poder da teologia romana no comb<strong>ate</strong> ao ensino<br />

protestante.<br />

Estava em Paris um primo de Calvino, que se havia unido aos reformadores. Os dois<br />

parentes muitas vezes se encontravam, e juntos discutiam as questões que estavam<br />

perturbando a cristandade. “Não há senão duas espécies de religiões no mundo”, dizia o<br />

protestante Olivetan. “Uma é a espécie de religiões que os homens inventaram, e em<br />

todas as quais o homem se salva por cerimônias e boas obras; a outra é a religião que está<br />

revelada na Escritura Sagrada e ensina o homem a esperar pela salvação unicamente da<br />

livre graça de Deus.” “Não quero nenhuma das tuas novas doutrinas”, exclamou Calvino;<br />

“achas que tenho vivido em erro todos os meus dias?” -Wylie.<br />

No espírito, porém, haviam-se-lhe despertado pensamentos de que se não podia livrar<br />

de todo. Sozinho em seu quarto, ponderava as palavras do primo. Não o deixara a<br />

convicção do pecado; via-se sem intercessor, na presença de um santo e justo Juiz. A<br />

mediação dos santos, as boas obras, as cerimônias da Igreja, tudo era impotente para<br />

expiar o pecado. Nada via diante de si, além do negror do desespero eterno. Em vão os<br />

doutores da igreja se esforçavam por aliviar-lhe a infelicidade. Em vão recorria à<br />

confissão e penitência; estas não podiam reconciliar a alma com Deus.<br />

Enquanto ainda se empenhava nessas lutas infrutíferas, Calvino, visitando<br />

casualmente uma das praças públicas, testemunhou ali a queima de um herege. Ficou<br />

deveras maravilhado ante a expressão de paz que se esboçava no semblante do mártir.<br />

Entre as torturas daquela morte cruel, e sob a mais terrível condenação da igreja,<br />

manifestou uma fé e coragem que o jovem estudante dolorosamente contrastou com o<br />

seu próprio desespero e escuridão, embora vivesse em estrita obediência à igreja. Na<br />

Bíblia, sabia ele, fundamentavam os hereges a sua fé. Resolveu estudá-la e descobrir, se o<br />

pudesse, o segredo da alegria deles.<br />

Na Bíblia achou a Cristo. “Ó Pai”, exclamou ele, “Seu sacrifício apaziguou Tua ira;<br />

Seu sangue lavou minhas impurezas; Sua cruz arrostou minha maldição; Sua morte fez<br />

expiação por mim. Imaginamos para nós muitas tolices inúteis, mas Tu colocaste Tua<br />

Palavra diante de mim como uma tocha, e tocaste-me o coração, a fim de que eu<br />

abominasse todos os outros méritos, com exceção dos de Jesus.” -Martyn.<br />

Calvino tinha sido educado para o sacerdócio. Quando contava apenas doze anos de<br />

idade, foi designado para o cargo de capelão de pequena igreja, sendo-lhe pelo bispo<br />

tonsurada a cabeça, de acordo com o cânon da igreja. Não recebeu consagração, nem<br />

cumpria os deveres de sacerdote, mas tornou-se membro do clero, mantendo o título de<br />

seu ofício e recebendo um estipêndio em consideração ao mesmo. Ora, compreendendo<br />

que jamais poderia tornar-se padre, volveu por algum tempo ao estudo das leis, mas<br />

abandonou finalmente este propósito e resolveu dedicar a vida ao evangelho. Hesitou,

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