21.04.2023 Views

Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

Seguiu viagem a pé, hospedando-se nos mosteiros, pelo caminho. Em um convento na<br />

Itália, encheu-se de admiração ante a riqueza, magnificência e luxo que testemunhou.<br />

Dotados de uma receita principesca, os monges habitavam em esplêndidos<br />

compartimentos, ornamentavam-se com as mais ricas e custosas vestes, e banqueteavamse<br />

em suntuosas mesas. Com dolorosos pressentimentos Lutero contrastou esta cena com<br />

a renúncia e rigores de sua própria vida. O espírito estava-se-lhe tornando perplexo.<br />

Afinal, contemplou a distância a cidade das sete colinas. Com profunda emoção<br />

prostrou-se ao solo, exclamando: “Santa Roma, eu te saúdo!” -D’Aubigné. Entrou na<br />

cidade, visitou as igrejas, ouviu as histórias maravilhosas repetidas pelos padres e<br />

monges, e cumpriu todas as cerimônias exigidas. Por toda parte via cenas que o enchiam<br />

de espanto e horror. Observava a iniqüidade que existia entre todas as classes do clero.<br />

Ouviu gracejos imorais dos prelados, e horrorizouse com sua espantosa profanidade,<br />

mesmo durante a missa. Ao associar-se aos monges e cidadãos, deparou com<br />

desregramento, libertinagem. Para onde quer que se volvesse, encontrava sacrilégio em<br />

lugar de santidade. “Ninguém pode imaginar”, escreveu ele, “que pecados e ações<br />

infames se cometem em Roma; precisam ser vistos e ouvidos para serem cridos. Por isso<br />

costumam dizer: ‘Se há inferno, Roma está construída sobre ele: é um abismo donde<br />

procede toda espécie de pecado.’” -D’Aubigné.<br />

Por um decreto recente, fora prometida pelo papa certa indulgência a todos os que<br />

subissem de joelhos a “escada de Pilatos”, que se diz ter sido descida por nosso Salvador<br />

ao sair do tribunal romano, e miraculosamente transportada de Jerusalém para Roma.<br />

Lutero estava certo dia subindo devotamente esses degraus, quando de súbito uma voz<br />

semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: “O justo viverá da fé.” Romanos 1:17. Ergueu-se<br />

de um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse texto<br />

nunca perdeu a força sobre sua alma. <strong>Desde</strong> aquele tempo, viu mais claramente do que<br />

nunca dantes a falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade<br />

de fé constante nos méritos de Cristo. Tinham-se-lhe aberto os olhos, e nunca mais se<br />

deveriam fechar aos enganos do papado. Quando ele deu as costas a Roma, também dela<br />

volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada vez maior, até<br />

romper todo contato com a igreja papal.<br />

Depois de voltar de Roma, Lutero recebeu na Universidade de Wittenberg o grau de<br />

doutor em teologia. Estava agora na liberdade de se dedicar, como nunca dantes, às<br />

Escrituras que ele amava. Fizera solene voto de estudar cuidadosamente a Palavra de<br />

Deus e todos os dias de sua vida pregá-la com fidelidade, e não os dizeres e doutrinas dos<br />

papas. Não mais era o simples monge ou professor, mas o autorizado arauto da Bíblia.<br />

Fora chamado para pastor a fim de alimentar o rebanho de Deus, que tinha fome e sede<br />

da verdade. Declarava firmemente que os cristãos não deveriam receber outras doutrinas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!