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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

porém, em se fazer pregador público. Era naturalmente tímido, é pesava-lhe a intuição<br />

das graves responsabilidades daquele cargo, desejando ainda dedicar-se ao estudo. Os<br />

ardorosos rogos de seus amigos, entretanto, alcançaram finalmente o seu consentimento.<br />

“É maravilhoso”, disse ele, “que pessoa de tão humilde origem fosse exaltada a tão<br />

grande dignidade.” -Wylie.<br />

Calmamente deu Calvino início à sua obra, e suas palavras foram como o orvalho que<br />

caía para refrigerar a terra. Deixara Paris, e então se encontrava numa cidade provinciana<br />

sob a proteção da princesa Margarida, que, amando o evangelho, estendia seu amparo aos<br />

discípulos do mesmo. Calvino era ainda jovem, de porte gentil e despretensioso.<br />

Começou o trabalho nos lares do povo. Rodeado dos membros da família, lia a Escritura<br />

e desvendava as verdades da salvação. Os que ouviam a mensagem, levavam as boas<br />

novas a outros, e logo o ensinador passou para além da cidade, às vilas e aldeias<br />

adjacentes. Encontrava ingresso tanto no castelo como na cabana e ia avante, lançando o<br />

fundamento de igrejas que deveriam dar corajoso testemunho da verdade.<br />

Decorridos alguns meses, achou-se de novo em Paris. Havia desusada agitação nas<br />

rodas dos homens ilustrados e eruditos. O estudo das línguas antigas conduzira os<br />

homens à Bíblia, e muitos, cujo coração não fora tocado pelas suas verdades, discutiamnas<br />

avidamente, dando mesmo comb<strong>ate</strong> aos campeões do romanismo. Calvino, se bem<br />

que fosse hábil lutador nos campos da controvérsia religiosa, tinha a cumprir uma missão<br />

mais elevada do que a daqueles teólogos ruidosos. O espírito dos homens estava agitado,<br />

e esse era o tempo para lhes desvendar a verdade. Enquanto os salões da Universidade<br />

ecoavam do rumor das discussões teológicas, Calvino prosseguia de casa em casa,abrindo<br />

a Escritura ao povo,falando-lhes de Cristo, o Crucificado.<br />

Na providência de Deus, Paris deveria receber outro convite para aceitar o evangelho.<br />

Rejeitara o apelo de Lefèvre e Farel, mas de novo a mensagem deveria ser ouvida por<br />

todas as classes naquela grande capital. O rei, influenciado por considerações políticas,<br />

não tinha ainda tomado completamente sua atitude ao lado de Roma contra a Reforma.<br />

Margarida ainda se apegava à esperança de que o protestantismo triunfasse na França.<br />

Resolveu que a fé reformada fosse pregada em Paris. Durante a ausência do rei, ordenou<br />

a um ministro protestante que pregasse nas igrejas da cidade. Sendo isto proibido pelos<br />

dignitários papais, a princesa abriu as portas do palácio. Um de seus compartimentos foi<br />

improvisado em capela e anunciou-se que diariamente, em hora determinada, seria<br />

pregado um sermão, sendo o povo de todas as classes e condições convidado a<br />

comparecer. Multidões congregavam-se para assistir ao culto. Não somente a capela,<br />

mas as antecâmaras e vestíbulos regurgitavam. Milhares se reuniam todos os dias -<br />

nobres, estadistas, advogados, negociantes e artífices. O rei, em vez de proibir essas<br />

assembléias, ordenou que duas das igrejas de Paris fossem abertas. Nunca dantes fora a<br />

cidade tão comovida pela Palavra de Deus. O espírito de vida, proveniente do Céu,

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