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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

parecia estar bafejando o povo. Temperança, pureza, ordem e trabalho estavam a tomar o<br />

lugar da embriaguez, libertinagem, contenda e ociosidade.<br />

A hierarquia, porém, não estava ociosa. O rei ainda se recusava a intervir no sentido<br />

de sustar a pregação, e aquela se volveu para a populaça. Não se poupavam meios para<br />

excitar os temores, preconceitos e fanatismo das multidões ignorantes e supersticiosas.<br />

Entregando-se cegamente a seus falsos ensinadores, Paris, como Jerusalém na<br />

antiguidade, não conheceu o tempo de sua visitação, nem as coisas que pertenciam à sua<br />

paz. Durante dois anos a Palavra de Deus foi pregada na capital; mas, ao mesmo tempo<br />

em que havia muitos que aceitavam o evangelho, a maioria das pessoas o rejeitavam.<br />

Francisco dera mostra de tolerância, meramente para servir a seus próprios propósitos, e<br />

os romanistas conseguiram readquirir a ascendência. De novo se fecharam as igrejas e<br />

<strong>ate</strong>ou-se a fogueira.<br />

Calvino ainda estava em Paris, preparando-se pelo estudo, meditação e oração, para<br />

os seus futuros labores, e continuando a disseminar a luz. Finalmente, porém, firmou-se<br />

contra ele a suspeita. As autoridades resolveram levá-lo às chamas. Considerando-se<br />

seguro em sua reclusão, não tinha idéia do perigo, quando amigos vieram<br />

precipitadamente a seu quarto com as notícias de que oficiais estavam a caminho para<br />

prendê-lo. Naquele instante ouviu-se uma forte pancada na porta exterior. Não havia um<br />

momento a perder. Alguns amigos detiveram os oficiais à porta, enquanto outros<br />

ajudavam o reformador a descer por uma janela; e rapidamente saiu para os extremos da<br />

cidade. Encontrando abrigo na cabana de um trabalhador amigo da Reforma, disfarçou-se<br />

nos trajes de seu hospedeiro e, levando ao ombro uma enxada, partiu em sua jornada.<br />

Viajando para o sul, encontrou novamente refúgio nos domínios de Margarida. -História<br />

da Reforma no Tempo de Calvino. -Ver D’Aubigné.<br />

Ali, por alguns meses, permaneceu em segurança sob a proteção de poderosos<br />

amigos, e como dantes, empenhado no estudo. Mas seu coração estava determinado a<br />

fazer a evangelização da França, e ele não poderia ficar por muito tempo inativo. Logo<br />

que a tempestade amainou um pouco, procurou um novo campo de trabalho em Poitiers,<br />

onde havia uma universidade, e onde já as novas opiniões alcançavam aceitação. Pessoas<br />

de todas as classes ouviam alegremente o evangelho. Não havia pregação pública, mas na<br />

casa do magistrado principal, em seus próprios cômodos, e algumas vezes num jardim<br />

público, Calvino desvendava as palavras de vida eterna aos que as desejavam ouvir.<br />

Depois de algum tempo, aumentando o número dos ouvintes, foi considerado mais seguro<br />

reunirem-se fora da cidade. Uma caverna ao lado de uma garganta profunda e estreita,<br />

onde árvores e pedras salientes tornavam a reclusão ainda mais completa, fora escolhida<br />

como o local para as reuniões. Pequenos grupos, que deixavam a cidade por estradas<br />

diferentes, dirigiamse para ali. Neste ponto isolado, a Escritura era lida e explicada. Ali,

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