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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

de paz, nunca tinham ouvido seu testemunho. Não foram somente os humildes e os<br />

pobres que, entre sofrimento e escárnio, ousaram dar testemunho de Cristo. Nos salões<br />

senhoriais do castelo e do palácio, houve almas régias por quem a verdade era mais<br />

apreciada do que a riqueza, posição social ou mesmo a vida. As armaduras reais<br />

ocultavam espírito mais sobranceiro e resoluto do que o faziam as vestes e a mitra do<br />

bispo. Luís de Berquin era de nascimento nobre, cavalheiro bravo e cortês, dedicado ao<br />

estudo, polido nas maneiras, e de moral irrepreensível. “Ele era”, diz certo escritor, “fiel<br />

seguidor das ordenanças papais, e grande ouvinte de missas e sermões, ... e, a coroar<br />

todas as demais virtudes, tinha pelo luteranismo aversão especial.” Mas, semelhante a<br />

tantos outros, guiado providencialmente à Escritura, maravilhouse de encontrar ali, “não<br />

as doutrinas de Roma mas as de Lutero.” -Wylie. <strong>Desde</strong> então se entregou com<br />

devotamento completo à causa do evangelho.<br />

“Como o mais douto dos nobres da França”, seu gênio e eloqüência, sua coragem<br />

indomável e heróico zelo, assim como sua influência na corte -pois era favorito do rei -<br />

faziam com que fosse considerado por muitos como destinado a ser o reformador de seu<br />

país. Disse Beza: “Berquin teria sido um segundo Lutero, caso houvesse encontrado em<br />

Francisco I um segundo eleitor.” “É pior do que Lutero”, exclamavam os romanistas.<br />

Mais temido era ele, na verdade, pelos romanistas da França. Arrojaram-no à prisão como<br />

herege, mas foi posto em liberdade pelo rei. Durante anos manteve a luta. Francisco<br />

claudicando entre Roma e a Reforma, alternadamente tolerava e restringia o zelo feroz<br />

dos monges. Berquin foi três vezes preso pelas autoridades papais, apenas para ser liberto<br />

pelo monarca que, admirando-lhe o gênio e nobreza de caráter, recusou sacrificá-lo à<br />

maldade do clero.<br />

Foi Berquin repetidas vezes avisado do perigo que o ameaçava na França, e com ele<br />

instou-se para que seguisse os passos dos que haviam encontrado segurança no exílio<br />

voluntário. O tímido Erasmo, subserviente às circunstâncias de seu tempo, e a quem, com<br />

todo o esplendor de sua erudição, faltava aquela grandeza moral que mantém a vida e a<br />

honra a serviço da verdade, escreveu a Berquin: “Pede para seres enviado como<br />

embaixador a algum país estrangeiro; vai viajar na Alemanha. Conheces Beda e outros<br />

como ele; é um monstro de mil cabeças, lançando veneno por todos os lados. Teus<br />

inimigos se contam por legiões. Fosse a tua causa melhor do que a de Jesus Cristo, e não<br />

te deixariam ir antes de te haverem miseravelmente destruído. Não confies muito na<br />

proteção do rei. Seja como for, não me comprometas com a faculdade de teologia.” -<br />

Wylie.<br />

Mas, intensificando-se os perigos, o zelo de Berquin apenas se tornou mais forte.<br />

Assim, longe de adotar o expediente egoísta sugerido por Erasmo, decidiu-se a medidas<br />

ainda mais ousadas. Não somente permaneceria na defesa da verdade, mas atacaria o<br />

erro. A acusação de heresia que os romanistas estavam procurando firmar contra ele,

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