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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

que até o próprio Frederico, durante muito tempo, não soube para onde fora ele<br />

conduzido. Esta ignorância não deixou de ter seu desígnio; enquanto o eleitor nada<br />

soubesse do paradeiro de Lutero, nada poderia revelar. Convenceu-se de que o<br />

reformador estava em segurança e com isso se sentiu satisfeito.<br />

Passaram-se a primavera, o verão e o outono, e chegara o inverno, e Lutero ainda<br />

permanecia prisioneiro. Aleandro e seus partidários exultavam quando a luz do evangelho<br />

parecia prestes a extinguir-se. Mas, em vez disso, o reformador enchia sua lâmpada no<br />

repositório da verdade; e sua luz deveria resplandecer com maior brilho. Na proteção<br />

amiga de Wartburgo, Lutero durante algum tempo se regozijou em seu livramento do<br />

ardor e torvelinho da batalha. Mas não poderia por muito tempo encontrar satisfação no<br />

silêncio e repouso. Habituado a uma vida de atividade e acirrado conflito, mal suportava<br />

o permanecer inativo. Naqueles dias de solidão, surgia diante dele o estado da igreja, e<br />

exclamava em desespero: “Ai! ninguém há neste último tempo da ira do Senhor para<br />

ficar diante dEle como uma muralha e salvar Israel.” -D’Aubigné.<br />

Novamente volvia os pensamentos para si mesmo e receava ser acusado de covardia<br />

por afastar-se da contenda. Acusava-se, então, de indolência e condescendência própria.<br />

No entanto, produzia diariamente mais do que parecia possível a um homem fazer. Sua<br />

pena nunca estava ociosa. Seus inimigos, conquanto se lisonjeassem de que ele estivesse<br />

em silêncio, espantavam-se e confundiam-se pela prova palpável de que ainda exercia<br />

atividade. Sem-número de folhetos, procedentes de sua pena, circulavam pela Alemanha<br />

toda. Também prestava importantíssimo serviço a seus patrícios, traduzindo o Novo<br />

Testamento para a língua alemã. De seu Patmos rochoso, continuou durante quase um<br />

ano inteiro a proclamar o evangelho e a repreender os pecados e erros do tempo.<br />

Não foi, porém, meramente para preservar Lutero da ira de seus inimigos, nem<br />

mesmo para proporcionar-lhe uma temporada de calma para esses importantes labores,<br />

que Deus retirara Seu servo do cenário da vida pública. Visavam-se resultados mais<br />

preciosos do que esses. Na solidão e obscuridade de seu retiro montesino, Lutero esteve<br />

afastado do apoio terrestre e excluído dos louvores humanos. Foi desta maneira salvo do<br />

orgulho e confiança em si próprio, tantas vezes determinados pelo êxito. Por sofrimentos<br />

e humilhação foi de novo preparado para andar em segurança na altura vertiginosa a que<br />

tão subitamente fora exaltado.<br />

Ao exultarem os homens na libertação que a verdade lhes traz, inclinam-se a<br />

engrandecer aqueles que Deus empregou para quebrar as cadeias do erro e superstição.<br />

Satanás procura desviar de Deus os pensamentos e afeições dos homens, e fixá-los nos<br />

fatores humanos; ele os leva a honrar o mero instrumento, e desconhecer a Mão que<br />

dirige os acontecimentos da Providência. Muitas vezes dirigentes religiosos que assim<br />

são louvados e reverenciados, perdem de vista sua dependência de Deus e são levados a

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