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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

interpretados e egoístas. Durante mais de meio século antes do tempo da Revolução, o<br />

trono foi ocupado por Luís XV que, mesmo naqueles maus tempos, se distinguiu como<br />

monarca indolente, frívolo e sensual. Com uma aristocracia depravada e cruel, uma classe<br />

inferior empobrecida e ignorante, achando-se o Estado em embaraços financeiros, e o<br />

povo exasperado, não se necessitava do olhar de profeta para prever uma iminente e<br />

terrível erupção. Às advertências de seus conselheiros estava o rei acostumado a<br />

responder: “Procurai fazer com que as coisas continuem tanto tempo quanto eu<br />

provavelmente possa viver; depois de minha morte, seja como for.” Era em vão que se<br />

insistia sobre a necessidade de reforma. Ele via os males, mas não tinha nem a coragem<br />

nem a força para enfrentá-los. Sua resposta indolente e egoísta sintetizava, com verdade,<br />

a sorte que aguardava a França: “Depois de mim, o dilúvio!”<br />

Valendo-se dos ciúmes dos reis e das classes governantes, Roma os influenciara a<br />

conservar o povo na escravidão, bem sabendo que o Estado assim se enfraqueceria, tendo<br />

por este meio o propósito de firmar em seu cativeiro tanto príncipes como o povo. Com<br />

política muito previdente, percebeu que, para escravizar os homens de modo eficaz,<br />

deveria algemar-lhes a alma; que a maneira mais certa de impedi-los de escapar de seu<br />

cativeiro era torná-los incapazes de libertar-se. Mil vezes mais terrível do que o<br />

sofrimento físico que resultava de sua política, era a degradação moral. Despojado da<br />

Escritura Sagrada, e abandonado ao ensino do fanatismo e egoísmo, o povo estava<br />

envolto em ignorância e superstição, submerso no vício, achando-se, assim,<br />

completamente inapto para o governo de si próprio.<br />

Mas a conseqüência de tudo isto foi grandemente diversa do que Roma tivera em<br />

mira. Em vez de manter as massas populares em submissão cega aos seus dogmas, sua<br />

obra teve como resultado torná-las incrédulas e revolucionárias. Desprezavam o<br />

romanismo como uma artimanha do clero. Consideravam-no como um partido que as<br />

oprimia. O único deus que conheciam era o deus de Roma; seu ensino era a única religião<br />

que professavam. Consideravam sua avidez e crueldade como os legítimos frutos da<br />

Bíblia, da qual nada queriam saber.<br />

Roma tinha representado falsamente o caráter de Deus e pervertido Seus<br />

mandamentos, e agora os homens rejeitavam tanto a Escritura Sagrada como seu Autor.<br />

Exigira fé cega nos seus dogmas, sob o pretenso apoio das Escrituras. Na reação, Voltaire<br />

e seus companheiros puseram inteiramente de lado a Palavra de Deus, disseminando por<br />

toda parte o veneno da incredulidade. Roma calcara o povo sob seu tacão de ferro; agora<br />

as massas, degradadas e em- brutecidas, ao revoltarem-se contra a tirania, arrojaram de si<br />

toda a restrição. Enraivecidos com o disfarçado embuste a que durante tanto tempo<br />

haviam prestado homenagem, rejeitaram a um tempo a verdade e a falsidade; e<br />

erroneamente tomando a libertinagem pela liberdade, os escravos do vício exultaram em<br />

sua liberdade imaginária.

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