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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

que o coração humano preza como os mais sagrados, tinham derramado seu sangue em<br />

muitos campos de rudes comb<strong>ate</strong>s. Os protestantes eram tidos na conta de proscritos,<br />

punha-se a preço a sua cabeça e eram perseguidos como animais selvagens.<br />

A “igreja no deserto”, os poucos descendentes dos antigos cristãos que ainda penavam<br />

na França no século XVIII, ocultando-se nas montanhas do sul, acariciavam ainda a fé de<br />

seus pais. Aventurandose a reunir-se à noite ao lado das montanhas ou dos pantanais<br />

solitários, eram caçados por cavalarianos e arrastados para a escravidão nas galeras, por<br />

toda a vida. “Os mais puros, cultos e inteligentes dos franceses, foram acorrentados, em<br />

horríveis torturas, entre ladrões e assassinos.” -Wylie. Outros, tratados com mais<br />

misericórdia, eram fuzilados a sangue frio, caindo, indefesos e desamparados, de joelhos,<br />

em oração. Centenas de homens idosos, indefesas mulheres e inocentes crianças eram<br />

deixados mortos sobre a terra em seu lugar de reunião. Atravessando-se a encosta das<br />

montanhas ou a floresta, onde estavam acostumados a reunir-se, não era raro<br />

encontrarem-se “a cada passo corpos mortos, pontilhando a relva, e cadáveres a balançar<br />

suspensos das árvores.” Seu território, devastado pela espada, pelo machado, pela<br />

fogueira, “converteu-se em vasto e triste deserto.” “Estas atrocidades não eram ordenadas<br />

... em qualquer época obscura, mas na era brilhante de Luís XIV. Cultivavam-se então as<br />

ciências, as letras floresciam, os teólogos da corte e da capital eram homens doutos e<br />

eloqüentes, aparentando perfeitamente as graças da humildade e caridade.” -Wylie.<br />

O mais negro, porém, do negro catálogo de crimes, a mais horrível entre as ações<br />

diabólicas de todos os hediondos séculos, foi o massacre de São Bartolomeu. O mundo<br />

ainda recorda com estremecimento de horror as cenas daquele assalto covardíssimo e<br />

cruel. O rei da França, com quem sacerdotes e prelados romanos insistiram, sancionou a<br />

hedionda obra. Um sino badalando à noite dobres fúnebres, foi o sinal para o morticínio.<br />

Milhares de protestantes que dormiam tranqüilamente em suas casas, confiando na honra<br />

empenhada de seu rei, eram arrastados para fora sem aviso prévio e assassinados a<br />

sangue frio.<br />

Como Cristo fora o chefe invisível de Seu povo ao ser tirado do cativeiro egípcio,<br />

assim foi Satanás o chefe invisível de seus súditos na horrível obra de multiplicar os<br />

mártires. Durante sete dias perdurou o massacre em Paris, sendo os primeiros três com<br />

inconcebível fúria. E não se limitou unicamente à cidade, mas por ordem especial do rei<br />

estendeu-se a todas as províncias e cidades onde se encontravam protestantes. Não se<br />

respeitava nem idade nem sexo. Não se poupava nem a inocente criancinha, nem o<br />

homem de cabelos brancos. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães e filhos, eram<br />

juntamente abatidos. Por toda a França a carnificina durou dois meses. Pereceram setenta<br />

mil da legítima flor da nação.

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