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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

No início da Revolução foi, por concessão do rei, outorgada ao povo uma<br />

representação mais numerosa do que a dos nobres e do clero reunidos. Assim a balança<br />

do poder estava em suas mãos; mas não se achavam preparados para fazer uso deste<br />

poder com sabedoria e moderação. Ávidos de reparar os males que tinham sofrido,<br />

decidiram-se a empreender a reconstrução da sociedade. Uma turba ultrajada, cujo<br />

espírito estava de há muito repleto de dolorosas lembranças, resolveu sublevar-se contra<br />

aquele estado de miséria que se tornara insuportável, vingando-se dos que considerava<br />

como responsáveis por seus sofrimentos. Os oprimidos puseram em prática a lição que<br />

tinham aprendido sob a tirania, e tornaram-se os opressores dos que os haviam oprimido.<br />

A desditosa França ceifou em sangue a colheita do que semeara. Terríveis foram os<br />

resultados de sua submissão ao poder subjugador de Roma. Onde a França, sob a<br />

influência do romanismo, acendera a primeira fogueira ao começar a Reforma, erigiu a<br />

Revolução a sua primeira guilhotina. No local em que os primeiros mártires da fé<br />

protestante foram queimados no século XVI, as primeiras vítimas foram guilhotinadas no<br />

século XVIII. Rejeitando o evangelho que lhe teria trazido cura, a França abrira a porta à<br />

incredulidade e ruína. Quando as restrições da lei de Deus foram postas de lado,<br />

verificou-se que as leis dos homens eram impotentes para sustar a avassalante onda da<br />

paixão humana; e a nação descambou para a revolta e anarquia. A guerra contra a Bíblia<br />

inaugurou uma era que se conserva na História Universal como “o reinado do terror.” A<br />

paz e a felicidade foram banidas dos lares e do coração dos homens. Ninguém se achava<br />

seguro. O que hoje triunfava era alvo de suspeitas e condenado amanhã. A violência e a<br />

cobiça exerciam incontestável domínio.<br />

Rei, clero e nobreza foram obrigados a submeter-se às atrocidades do povo excitado e<br />

enlouquecido, cuja sede de vingança subiu de ponto com a execução do rei; e os que<br />

haviam decretado sua morte logo o seguiram no cadafalso. Foi ordenado um morticínio<br />

geral de todos os que eram suspeitos de hostilizar a Revolução. As prisões estavam<br />

repletas, contendo em certa ocasião mais de duzentos mil prisioneiros. Multiplicavam-se<br />

nas cidades do reino as cenas de horror. Um partido dos revolucionários era contra outro,<br />

e a França tornou-se um vasto campo de massas contendoras, dominadas pela fúria das<br />

paixões. “Em Paris, tumulto sucedia a tumulto, e os cidadãos estavam divididos numa<br />

mistura de facções, que não pareciam visar coisa alguma a não ser a exterminação<br />

mútua.” E para aumentar a miséria geral, a nação envolveu-se em prolongada e<br />

devastadora guerra com as grandes potências da Europa. “O país estava quase falido, o<br />

exército a clamar pelos pagamentos em atraso, os parisienses passando fome, as<br />

províncias assoladas pelos ladrões, e a civilização quase extinta em anarquia e<br />

licenciosidade.”<br />

Muito bem havia o povo aprendido as lições de crueldade e tortura que Roma tão<br />

diligentemente ensinara. Chegara finalmente o dia da retribuição. Não eram mais os

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