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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

lamento lhe devia empanar a alegria. Enquanto o cortejo se movia vagarosamente através<br />

das ruas regurgitantes de gente, este notava com admiração a imperturbável paz, o alegre<br />

triunfo que trazia no olhar e porte. “Ele está”, diziam, “como alguém que se senta num<br />

templo e medita sobre coisas santas.” -Wylie.<br />

Junto à fogueira, Berquin esforçou-se por dirigir algumas palavras ao povo; mas os<br />

monges, temendo o resultado, começaram a gritar, e os soldados a chocar as armas, e o<br />

rumor abafou a voz do mártir. Assim, em 1529, a mais alta autoridade literária e<br />

eclesiástica da culta Paris, “deu à populaça de 1793 o indigno exemplo de sufocar na<br />

forca as palavras sagradas do moribundo.” -Wylie. Berquin foi estrangulado, e seu corpo<br />

consumido nas chamas. As notícias de sua morte causaram tristeza aos amigos da<br />

Reforma por toda a França. Mas seu exemplo não foi em vão. “Estamos também<br />

prontos”, disseram as testemunhas da verdade, “para enfrentar com ânimo a morte, pondo<br />

nossos olhos na vida por vir.” -História da Reforma no Tempo de Calvino, D’Aubigné.<br />

Durante a perseguição em Meaux, os ensinadores da fé reformada foram proibidos de<br />

pregar, e partiram para outros campos. Lefèvre, depois de algum tempo, tomou rumo da<br />

Alemanha. Farel voltou para sua cidade natal, na França oriental, a fim de disseminar a<br />

luz no lugar de sua infância. Já se haviam recebido notícias do que se passava em Meaux,<br />

e a verdade, por ele ensinada com destemido zelo, atraía ouvintes. Levantaram-se logo as<br />

autoridades para fazê-lo silenciar, sendo ele banido da cidade. Posto que não mais<br />

pudesse trabalhar publicamente, atravessou as planícies e aldeias, ensinando nas casas<br />

particulares, nos prados isolados, encontrando abrigo nas florestas e entre as cavernas<br />

rochosas que haviam sido sua guarida nos tempos de rapaz. Deus o estava preparando<br />

para maiores provas. “Não têm faltado as cruzes, perseguições e maquinações de Satanás,<br />

de que eu estava prevenido”, disse ele; “são mesmo muito mais atrozes do que poderia<br />

suportar por mim mesmo; mas Deus é meu Pai; Ele me proveu e sempre há de prover-me<br />

da força que peço.” -D’Aubigné.<br />

Como nos dias dos apóstolos, a perseguição contribuíra “para maior proveito do<br />

evangelho.” Filipenses 1:12. Expulsos de Paris e Meaux, “os que andavam dispersos iam<br />

por toda a parte, anunciando a Palavra.” Atos 8:4. E assim a luz teve acesso a muitas das<br />

afastadas províncias da França. Deus estava ainda a preparar obreiros para ampliar a Sua<br />

causa. Em uma das escolas de Paris havia um jovem refletido, quieto, e que dava mostras<br />

de espírito robusto e penetrante, e não menos notável pela correção de vida do que pelo<br />

ardor intelectual e devoção religiosa. Seu gênio e aplicação logo o fizeram o orgulho do<br />

colégio, e tinha-se como certo que João Calvino seria um dos mais hábeis e honrados<br />

defensores da igreja. Mas um raio de luz divina penetrou até ao próprio interior das<br />

paredes do escolasticismo e superstição em que se achava Calvino encerrado. Estremeceu<br />

ao ouvir das novas doutrinas, nada duvidando de que os hereges merecessem o fogo a que<br />

eram entregues. Contudo, sem disso se dar conta, foi posto face a face com a heresia, e

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