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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

perigo, ele próprio acudiria em seu auxílio. Ouvindo acerca da prisão do reformador, o<br />

fiel discípulo imediatamente se preparou para cumprir a promessa. Sem salvo-conduto,<br />

com um único companheiro, partiu para Constança. Ali chegando, convenceu-se de que<br />

apenas se havia exposto ao perigo, sem a possibilidade de fazer qualquer coisa para o<br />

livramento de Huss. Fugiu da cidade, mas foi preso em viagem para casa e conduzido de<br />

volta em ferros, sob a guarda de um grupo de soldados. Ao seu primeiro aparecimento<br />

perante o concílio, as tentativas de Jerônimo para responder às acusações apresentadas<br />

contra ele eram defrontadas com clamores: “Às chamas! Que vá às chamas!” -<br />

Bonnechose. Foi lançado numa masmorra, acorrentado em posição que lhe causava<br />

grande sofrimento e alimentado a pão e água. Depois de alguns meses, as crueldades da<br />

prisão causaram-lhe uma enfermidade que lhe pôs em perigo a vida, e seus inimigos,<br />

receosos de que ele se lhes pudesse escapar, trataram-no com menos severidade, posto<br />

que permanecesse na prisão durante um ano.<br />

A morte de Huss não deu os resultados que os sectários de Roma haviam esperado. A<br />

violação do salvo-conduto suscitara uma tempestade de indignação, e como meio mais<br />

seguro de agir, o concílio decidiu, em vez de queimar a Jerônimo, obrigá-lo, sendo<br />

possível, a retratar-se. Foi levado perante a assembléia e ofereceuse-lhe a alternativa de<br />

renunciar, ou morrer na fogueira. A morte, no início de sua prisão, teria sido uma<br />

misericórdia, à vista dos terríveis sofrimentos por que passara; mas agora, enfraquecido<br />

pela moléstia, pelos rigores do cárcere e pela tortura da ansiedade e apreensão, separado<br />

dos amigos e desanimado pela morte de Huss, a fortaleza de Jerônimo cedeu, e ele<br />

consentiu em submeter-se ao concílio. Comprometeu-se a aderir à fé católica, e aceitou a<br />

ação do concílio ao condenar as doutrinas de Wycliffe e Huss, exceção feita, contudo, das<br />

“santas verdades” que tinham ensinado. -Bonnechose.<br />

Por este expediente Jerônimo se esforçou por fazer silenciar a voz da consciência e<br />

escapar da condenação. Mas, na solidão do calabouço,viu mais claramente o que havia<br />

feito. Pensou na coragem e fidelidade de Huss, e em contraste refletiu em sua própria<br />

negação da verdade. Pensou no divino Mestre a quem se comprometera a servir, e que<br />

por amor dele suportara a morte de cruz. Antes de sua retratação encontrara conforto, em<br />

todos os sofrimentos, na certeza do favor de Deus; mas agora o remorso e a dúvida lhe<br />

torturavam a alma. Sabia que ainda outras retratações haveria a fazer antes que pudesse<br />

estar em paz com Roma. O caminho em que estava entrando apenas poderia terminar em<br />

completa apostasia. Sua resolução estava tomada: não negaria ao Senhor para escapar de<br />

um breve período de sofrimento.<br />

Logo foi ele novamente levado perante o concílio. Sua submissão não satisfizera aos<br />

juízes. Sua sede de sangue, aguçada pela morte de Huss, clamava por novas vítimas.<br />

Apenas renunciando à verdade, sem reservas, poderia Jerônimo preservar a vida.<br />

Decidira-se, porém, a confessar sua fé e seguir às chamas seu irmão mártir. Renunciou à

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