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Desde a Monarquia ate a Anarquia

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

Mais do que todas, uma hedionda figura tornou-se tão familiar como se existisse desde o início dos tempos, uma afiada figura de gênero feminino chamada La Guillotine. Era o tema popular dos gracejos; indicada como o melhor tratamento para dor de cabeça ou como a melhor forma de evitar cabelos brancos, imprimia uma peculiar delicadeza à compleição física, era a Navalha Nacional que proporcionava um corte de barba mais rente; aqueles que beijavam La Guillotine espiavam pela janelinha e espirravam no saco. Era o sinal da regeneração da raça humana. Suplantava a cruz. Miniaturas dela eram exibidas sobre os seios de onde o crucifixo fora descartado, era objeto de veneração e crença quando a cruz era negada. Decepou cabeças tantas que se tingiu, e ao chão que poluiu tanto, de um vermelho pútrido. Foi desmontada, como um simples brinquedo, um quebracabeça de algum demônio infante, e foi novamente montada quando a ocasião exigiu.

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Da <strong>Monarquia</strong> à <strong>Anarquia</strong><br />

pela primeira vez, foi pelos protestantes da França celebrada a Ceia do Senhor. Dessa<br />

pequena igreja foram enviados vários fiéis evangelistas.<br />

Mais uma vez Calvino voltou a Paris. Mesmo então não podia abandonar a esperança<br />

de que a França, como nação, aceitasse a Reforma. Encontrou, porém, fechadas para o<br />

trabalho quase todas as portas. Ensinar o evangelho era tomar o caminho direto para a<br />

fogueira, e finalmente resolveu partir para a Alemanha. Apenas deixara a França, quando<br />

irrompeu sobre os protestantes uma tempestade que certamente o teria envolvido na ruína<br />

geral, caso houvesse ele permanecido. Os reformadores franceses, ansiosos por ver seu<br />

país acompanhar a Alemanha e a Suíça, decidiram-se a desferir contra a superstição de<br />

Roma um golpe audaz, que despertaria a nação inteira. De conformidade com isto, em<br />

uma noite foram afixados, por toda a França, cartazes que atacavam a missa. Em vez de<br />

promover a Reforma, este movimento zeloso, mas mal-interpretado, acarretou ruína, não<br />

somente para seus propagadores, mas também para os amigos da fé reformada na França<br />

inteira. Deu aos romanistas o que havia muito desejavam -um pretexto para pedirem a<br />

destruição completa dos hereges como agitadores perigosos à estabilidade do trono e da<br />

paz da nação.<br />

Por alguma mão secreta -se a de um amigo imprudente, ou a de um ardiloso<br />

adversário, nunca se soube -um dos cartazes foi colocado à porta do quarto particular do<br />

rei. O monarca encheu-se de horror. Naquele papel eram atacadas sem reservas<br />

superstições que haviam recebido a veneração dos séculos. E a audácia, sem precedentes,<br />

de introduzir à presença real estas afirmações claras e surpreendentes, suscitou a ira do<br />

rei. Em espanto ficou ele por um pouco de tempo a tremer e com a voz embargada. Então<br />

sua raiva encontrou expressão nestas terríveis palavras: “Sejam sem distinção agarrados<br />

todos os que são suspeitos de luteranismo. Exterminálos-ei a todos.” Estava lançada a<br />

sorte. O rei se decidira a pôr-se completamente do lado de Roma.<br />

De pronto foram tomadas medidas para a prisão de todos os luteranos em Paris. Um<br />

pobre artífice, adepto da fé reformada, que se havia acostumado a convocar os crentes<br />

para as suas assembléias secretas, foi agarrado e, sob a ameaça de morte instantânea na<br />

fogueira, ordenou-se-lhe conduzir o emissário papal à casa de todos os protestantes na<br />

cidade. Ele estremeceu de horror ante a vil proposta, mas finalmente o medo das chamas<br />

prevaleceu, e concordou em se fazer traidor dos irmãos. Precedido da hóstia, e rodeado<br />

de um séquito de padres, incensadores, monges e soldados, Morin, agente policial do rei,<br />

com o traidor, vagarosa e silenciosamente passaram pelas ruas da cidade. Aquela<br />

demonstração era ostensivamente em honra ao “santo sacramento”, um ato de expiação<br />

pelo insulto feito pelos protestantes à missa. Mas, por sob aquele espetáculo escondiase<br />

um propósito mortal. Chegado defronte da casa de um luterano, o traidor fazia um sinal,<br />

mas nenhuma palavra era proferida. O cortejo fazia alto, entravam na casa, a família era<br />

arrastada e acorrentada, e o terrível séquito prosseguia em procura de novas vítimas.

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