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Da Extinção dos Contratos - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado ...

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Ressalte-se que esta mudança <strong>de</strong> concepção da culpa (<strong>de</strong><br />

psicológica a normativa) foi criticada por alguns <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>res.<br />

Assim, René Demogue sustenta que a culpa normativa, ao a<strong>do</strong>tar o<br />

critério <strong>do</strong> bom pai <strong>de</strong> família – objetivo –, proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se à análise<br />

in abstracto da culpa, contraria a idéia <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> subjetiva.<br />

22 Por outro la<strong>do</strong>, há quem sustente que a culpa apreciada in<br />

concreto revela-se mais apta a “incitar os indivíduos a se mostrarem<br />

mais pru<strong>de</strong>ntes”. 23<br />

Observe-se que o próprio critério <strong>do</strong> bom pai <strong>de</strong> família, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

na concepção normativa da culpa, foi alvo <strong>de</strong> severas críticas<br />

por parte da <strong>do</strong>utrina. 24 Indaga-se quem, afinal, seria este bom pai<br />

<strong>de</strong> família, senão um ente abstrato, etéreo, <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> da generalida<strong>de</strong><br />

das pessoas. Em razão das dificulda<strong>de</strong>s em se <strong>de</strong>terminar o<br />

padrão <strong>de</strong> comportamento <strong>do</strong> bonus pater familias, Giorgio Giorgi<br />

sustenta que o julga<strong>do</strong>r, no momento <strong>de</strong> verificar a conduta culposa<br />

<strong>do</strong> ofensor, acaba a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> critérios pessoais, 25 o que se traduziria,<br />

certamente, na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> parâmetro <strong>de</strong> conduta que ele ou seus conheci<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

a<strong>do</strong>tariam nas mesmas circunstâncias. Em outras palavras,<br />

o mo<strong>de</strong>lo abstrato <strong>de</strong> conduta <strong>do</strong> bonus pater familias correspon<strong>de</strong><br />

ao comportamento que o juiz ou seus conheci<strong><strong>do</strong>s</strong> a<strong>do</strong>tariam, hipoteticamente,<br />

se situa<strong><strong>do</strong>s</strong> nas mesmas circunstâncias <strong>do</strong> caso concreto.<br />

Tal parâmetro <strong>de</strong> comportamento afigura-se tão inacessível e pessoal<br />

quanto o padrão <strong>de</strong> comportamento <strong>do</strong> ofensor, 26 a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> na análise<br />

da culpa in concreto.<br />

Além disso, em inúmeras situações, propiciadas pelos avanços<br />

científicos e tecnológicos e pela crescente complexida<strong>de</strong> sócio-econômica,<br />

o juiz não <strong>de</strong>terá o conhecimento técnico específico que lhe<br />

22 DEMOGUE, René. traité <strong>de</strong>s obligations en général – sources <strong>de</strong>s obligations, tomo III, Paris: Librarie<br />

Arthur Rousseau, 1923, p. 426: “Il faut avouer que la responsabilité in abstracto est contraire au point <strong>de</strong><br />

départ <strong>de</strong> la théorie subjective <strong>de</strong> la responsabilité. S’étant placée nettement au point <strong>de</strong> vue <strong>de</strong> l’auteur elle<br />

se refuse à s’y placer jusqu’au bout fait ici une concession à la théorie objective <strong>de</strong> la responsabilité. (…) En<br />

effet l’irresponsabilité <strong>do</strong>nt on bénéficie lorsqu’il y avait impossibilité d’empêcher le <strong>do</strong>mmage ne s’explique<br />

pas”.<br />

23 Confira-se um apanha<strong>do</strong> das diversas posições em LIMA, Alvino. Culpa e risco, cit. p. 65.<br />

24 Cf. a crítica <strong>de</strong> René Savatier, Traité <strong>de</strong> la responsabilité civile en droit français, tomo I, Paris: LGDJ,<br />

1951, p. 7. V., ainda, no âmbito da common law, Peter Cane. Atyiah’s acci<strong>de</strong>nts, compensation and the<br />

Law. Lon<strong>do</strong>n: Wei<strong>de</strong>nfeld and Nicolson, 1987, p. 37.<br />

25 GIORGI, Giorgio. Teoria <strong>de</strong>lle obbligazioni nel Diritto Mo<strong>de</strong>rno Italiano. Turim: UTET, 1927, v. IX,<br />

p. 49.<br />

26 SCHREIBER, An<strong>de</strong>rson. Novos paradigmas da responsabilida<strong>de</strong> civil: da erosão <strong><strong>do</strong>s</strong> filtros da reparação<br />

à diluição <strong><strong>do</strong>s</strong> danos. São Paulo: Atlas, 2007, p. 39.<br />

Revista da EMERJ, v. 11, nº 42, 2008<br />

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