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A Gramatica para Concursos - Fernando Pestana

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Os temores que a crise lá de fora desperta nos analistas e alarmistas daqui parecem não atingir os moradores das áreas<br />

carentes das grandes cidades brasileiras. É fantástica a capacidade que eles têm de acreditar no melhor, em meio à<br />

incerteza.<br />

Se alguma conclusão se pode tirar da ingênua tendência compradora daqueles que têm tão pouco, é a de que ela nasce de<br />

um incompreensível otimismo – incompreensível <strong>para</strong> nós, atormentados da classe média. Ao redor deles pipocam<br />

dificuldades, mas eles, confiantes, jogam com o destino como se ele fosse uma Mega-Sena que um dia vai dar.<br />

29. (CEPERJ – Degase – Agente Socioeducativo – 2012) O texto é uma crônica, que comenta um aspecto da vida cotidiana a<br />

partir da visão do autor.<br />

O fragmento que melhor demonstra a presença de uma opinião do autor é:<br />

a) “Dezembro é o mês das compras, como maio é o das noivas...”<br />

b) “Recebem o 13 o salário ou parte dele – e compram.”<br />

c) “A queda da inflação deixou sobrar no bolso deles a parte do salário que se queimava na fogueira do aumento de<br />

preços.”<br />

d) “Em vez de guardarem o dinheiro por seis meses e comprarem à vista com desconto, preferem parcelar em doze meses<br />

e pagar o dobro...”<br />

e) “As indústrias investem em processos de produção que rendem mais e custam menos.”<br />

30. A pequena narrativa do caso da senhora que faz limpeza na casa da amiga do cronista cumpre, no texto, a seguinte função:<br />

a) Contestar dados estatísticos posteriormente citados.<br />

b) Exemplificar atitude posteriormente descrita.<br />

c) Detalhar casos anteriormente narrados.<br />

d) Contradizer ideia anteriormente exposta.<br />

e) Reforçar discurso constantemente relatado.<br />

31. “Resulta o que se poderia chamar de globalização do olho da rua.[...] É a globalização do bico. [...] É a globalização<br />

do dane-se.”<br />

A sequência acima caracteriza a globalização a partir da desestruturação do mundo do trabalho.<br />

Do ponto de vista dos recursos da linguagem é correto afirmar que, no contexto, ocorre uma:<br />

a) gradação, com o aumento progressivo das dificuldades;<br />

b) contradição, entre os modos de sobrevivência do desempregado;<br />

c) ênfase, com a intensificação da afirmativa inicial;<br />

d) retificação, pela correção gradual das informações iniciais;<br />

e) exemplificação, pelo relato de situações específicas.<br />

O LENDÁRIO PAÍS DO RECALL<br />

Moacyr Scliar<br />

“MINHA QUERIDA DONA: quem lhe escreve sou eu, a sua fiel e querida boneca, que você não vê há três meses. Sei<br />

que você sente muitas saudades, porque eu também sinto saudades de você. Lembro de você me pegando no colo, me<br />

chamando de filhinha, me dando papinha... Você era, e é, minha mãezinha querida, e é por isso que estou lhe mandando<br />

esta carta, por meio do cara que assina esta coluna e que, sendo escritor, acredita nas coisas da imaginação.<br />

Posso lhe dizer, querida, que vivi uma tremenda aventura, uma aventura que em vários momentos me deixou apavorada.<br />

Porque tive de viajar <strong>para</strong> o distante país do recall.<br />

Aposto que você nem sabia da existência desse lugar; eu, pelo menos, não sabia. Para lá fui enviada. Não só eu: bonecas<br />

defeituosas, ursinhos idem, eletrodomésticos que não funcionavam e peças de automóvel quebradas. Nós todos ali, na<br />

traseira de um gigantesco caminhão que andava, andava sem <strong>para</strong>r.<br />

Finalmente chegamos, e ali estávamos, no misterioso e, <strong>para</strong> mim, assustador país do recall. Um homem nos recebeu e<br />

anunciou, muito secamente, que o nosso destino em breve seria traçado: as bonecas (e os ursinhos, e outros brinquedos, e<br />

objetos vários) que tivessem conserto seriam consertados e mandados de volta <strong>para</strong> os donos; quanto tempo isso levaria<br />

era imprevisível, mas três meses era o mínimo. Uma boneca que estava do meu lado, a Liloca, perguntou, com os olhos<br />

arregalados, o que aconteceria a quem não tivesse conserto. O homem não disse nada, mas seu sorriso sinistro falava por<br />

si.<br />

Passamos a noite num enorme pavilhão destinado especialmente às bonecas. Éramos centenas ali, algumas com<br />

probleminhas pequenos (um braço fora do lugar, por exemplo), outras já num estado lamentável. Estava muito claro que<br />

<strong>para</strong> várias de nós não haveria volta.<br />

Naquela noite conversei muito com minha amiga Liloca – sim, querida dona, àquela altura já éramos amigas. O infortúnio<br />

tinha nos unido. Outras bonecas juntaram-se a nós e logo formamos um grande grupo. Estávamos preocupadas com o que<br />

poderia nos suceder.

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