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A Gramatica para Concursos - Fernando Pestana

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Apesar de esta gramática contemplar a modalidade culta da língua, não estamos cegos às<br />

variações (normais) da nossa língua. Assim, citamos Marcos Bagno: “... é preciso sempre<br />

lembrar que, do ponto de vista sociocultural, o ‘erro’ existe, e sua maior ou menor ‘gravidade’<br />

depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das classes sociais, que<br />

é também uma pirâmide de variedades linguísticas. Quanto mais baixo estiver um falante na<br />

escala social, maior número de ‘erros’ as camadas mais elevadas atribuirão à sua variedade<br />

linguística (e a diversas outras características sociais dele). O ‘erro’ linguístico, do ponto de<br />

vista sociológico e antropológico, se baseia, portanto, numa avaliação negativa que nada<br />

tem de linguística: é uma avaliação estritamente baseada no valor social atribuído ao<br />

falante, no seu poder aquisitivo, no seu grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua<br />

origem geográfica, nos postos de comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de<br />

sua pele, no seu sexo e outros critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e<br />

culturais” (friso meu). Por isso é que, muitas vezes, um mesmo suposto erro é considerado<br />

uma “licença poética” quando surge num texto assinado por um autor de renome ou na fala de<br />

um membro das classes privilegiadas, mas como um “vício de linguagem”, quando se<br />

materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente.<br />

Em resumo, não insistamos mais no discurso preconceituoso e desagregador de outrora, a<br />

saber, que alguém cometeu um erro de português, mas sim que, no máximo, alguém cometeu<br />

um desvio da norma culta, ou uma transgressão da norma culta, ou uma inadequação ao<br />

registro culto da língua. É claro que agora você não vai sair por aí dizendo: “Ih, você viu?<br />

Ele não se adequou ao registro culto da língua.”. Seria risível, no mínimo. Vale ainda dizer<br />

que o falante de uma língua só comete falha se aquilo que foi expresso não estabeleceu vínculo<br />

comunicativo. Linguisticamente, não há certo e errado numa língua. Há ausência ou<br />

presença de comunicação.<br />

Quanto à norma culta, só podemos dizer que, em um discurso, há inadequação ou<br />

adequação, ou seja, seria inadequado falar com um juiz de direito assim: “E aí, maluco,<br />

beleza? Será que nós pode falar aí contigo pra gente trocar uma ideia sobre um bagulho da<br />

promotoria?”, porque o contexto é formal, afinal, fala-se com uma autoridade. Sendo assim,<br />

seria preciso haver adequação à norma culta. Infelizmente, algumas bancas, como a Esaf,<br />

ainda trabalham com o conceito de “erro” gramatical.<br />

Vamos entender melhor quando o registro é culto ou coloquial.

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