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A Gramatica para Concursos - Fernando Pestana

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Bom <strong>para</strong> o sorveteiro<br />

Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na minha<br />

cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal, depois de quase três dias se debatendo na areia da praia<br />

e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar. Até a União Soviética acabou, como foi dito por<br />

locutores especializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos foram lá<br />

apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência. Um belo espetáculo.<br />

À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, todos<br />

se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia<br />

ficava encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas <strong>para</strong><br />

vender com ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir os bifes.<br />

Em 1966, uma baleia adulta foi <strong>para</strong>r ali mesmo e em quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria<br />

voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salva graças à religião<br />

ecológica que anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue quente ou<br />

de sangue frio.<br />

Até que enfim chegou uma traineira da Petrobras. Logo uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da<br />

eficácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia recolher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que<br />

salva, a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil<br />

encalhado na areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo<br />

é símbolo.<br />

(Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo)<br />

33. (FCC – TRE/SP – Analista Judiciário (Área Administrativa) – 2012) Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente<br />

o sentido de um segmento em:<br />

a) em necrológio eufórico (1 o parágrafo) = em façanha mortal.<br />

b) Comum, vírgula. (2 o parágrafo) = Geral, mas nem tanto.<br />

c) que se desse por perdida a batalha (2 o parágrafo) = que se imaginasse o efeito de uma derrota.<br />

d) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3 o parágrafo) = derrogou uma imunidade <strong>para</strong> nós todos.<br />

e) é preciso dar provas da eficácia (4 o parágrafo) = convém explicitar os bons propósitos.<br />

A biosfera, o nome que a ciência dá à vida, parece algo enorme, que se espalha por toda parte, que nos cerca por cima, por<br />

baixo, pelos lados, andando, voando e nadando. Pois toda essa única maravilha se espreme por sobre uma camada ínfima<br />

do planeta. Quão ínfima? Toda a vida da Terra está contida em 0,5% de sua massa superficial. Metade de 1%. O restante<br />

é rocha estéril recobrindo o núcleo de ferro incandescente. Imagine uma metrópole do tamanho de São Paulo ou de Nova<br />

York totalmente deserta, quente demais ou fria demais <strong>para</strong> manter formas de vida, exceto por um único quarteirão.<br />

A vida, ou a biosfera, torna-se uma reserva ainda mais enclausurada e única, quando se sabe que nenhuma forma de vida,<br />

mesmo a mais primitiva, jamais foi detectada fora dos limites da Terra. Se toda a biosfera terrestre se mantém em uma<br />

parte ínfima do planeta, este por sua vez é um grão de areia. Sem contar o Sol, a Terra responde por apenas 1/500 da<br />

massa total do sistema solar. Essa bolhinha azul e frágil que vaga pelo infinito recebe agora seu habitante número 7 bilhões,<br />

reavivando a imorredoura questão sobre até quando a população mundial poderá crescer sem produzir um colapso nos<br />

recursos naturais do planeta.<br />

A questão se impõe porque o crescimento no uso desses recursos forma uma curva estatística impressionante. A estimativa é<br />

de que, em 2030, será necessário o equivalente a duas Terras <strong>para</strong> garantir o padrão de vida da humanidade. As<br />

perspectivas mais sombrias sobre a sustentabilidade do planeta não levam em conta a extraordinária capacidade de<br />

recuperação da natureza – e a do próprio ser humano – <strong>para</strong> superar as adversidades. A Terra já passou por cinco grandes<br />

extinções em massa e a vida sempre voltou ainda com mais força. Enquanto se procuram soluções <strong>para</strong> o equilíbrio entre<br />

crescimento populacional e preservação de recursos, a natureza manda suas mensagens de socorro. A espaçonave Terra é<br />

uma generosa Arca de Noé, mas ela tem limites.<br />

(Filipe Vilicic, com reportagem de Alexandre Salvador. Veja, 2 de novembro de 2011. p.130-132, com adaptações)<br />

34. O segmento cujo sentido está corretamente expresso com outras palavras é:<br />

a) uma reserva ainda mais enclausurada = um território sempre inexplorado;<br />

b) em uma parte ínfima do planeta = num ponto desconhecido da Terra;<br />

c) a imorredoura questão = o problema de mais difícil solução;<br />

d) perspectivas mais sombrias = visões menos animadoras;<br />

e) <strong>para</strong> superar as adversidades = <strong>para</strong> atenuar situações incompreensíveis.<br />

35. (Cesgranrio – Petrobras – Técnico de Estabilidade Júnior – 2012) Na frase “foi criado sinteticamente em laboratório <strong>para</strong>

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