FEIRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2015

família realocaram suas moradias em diferentes partes da cidade. Disto resulta a venda e o
parcelamento gradativo do lote inicial da família do marido de Dora e sua posterior incorporação
a um novo tecido urbano que se projetava para as áreas vizinhas a área central da cidade.
Dona Dora, marido e filhos, fixa sua residência no bairro Vila Rosa e ali permanece até hoje.
A importância da morada é central para estas três gerações de mulheres negras como
ponto de ancoragem de suas memórias de um projeto de ascensão social transgeracional para
o grupo familiar como um todo. As madeiras da antiga casa de Dona Dora, que fica atualmente
atrás da casa de sua filha, Jussara, construída alguns anos atrás já mostram o sinal do tempo e
recebem reformas com frequência. O terreno onde se situam ambas as casas está rodeado de
prédios de apartamentos destinados à famílias de camadas médias, brancas, fruto do processo
de enobrecimento do bairro e da venda das casas dos antigos moradores.
Ambas as moradas carregam a história das lembranças dos esforços empreendidos
por gerações de mulheres pertencentes às famílias negras que habitavam anteriormente essa
região do contexto metropolitano de Novo Hamburgo para tornarem-se proprietárias de uma
residência, e assim fincar suas raízes no mundo do trabalho que ali se desenvolvia. Ainda que
o deslocamento para o bairro tenha ocorrido aos 28 anos de idade, Dona Dora mescla suas
lembranças do mundo do trabalho doméstico em residências de famílias alemãs, da aquisição
do terreno e da construção de sua casa com as suas memórias do bairro que lhe permitiu,
finalmente, “ser alguém”. Como ela mesma conta:
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Essa casa representa toda a minha vida. Daqui que eu comecei a ser gente
mesmo. Ser valorizada como gente. Que até aí [sic] eu era uma perdida sem
ninguém, não tinha parente, não tinha ninguém. (Informação verbal: Darcy
29/08/2015).