FEIRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2015

qual se organiza a vida social hamburguense. A morada, a casa materna, seja de Jussara, seja
de Dora, fruto de uma luta social, morada construída no terreno desta última, significa a transmutação
da figura do “zé ninguém” aplicada as famílias negras dos antigos arrabaldes e dos
“mocambos” das grandes cidades de “sobrados” (conforme expressões de G. Freyre, 2003)
em “alguém” com direitos à cidade e aos seus territórios de trocas sociais.
Jussara e sua mãe, Dora, reafirmam alguns apontamentos de Roberto Da Matta (1997)
sobre as categorias “casa” por oposição a “rua” para o caso das formas como os grupos sociais
se apropriam os espaços geográficos das grandes cidades do Brasil, ou seja, a morada
adquire, segundo o autor, uma dimensão moral capaz de despertar emoções específicas que
tendem a associar a casa ao direito a cidade, a ser alguém, ao exercício da cidadania. E meio
a rítmica de apagamento da herança étnico-racial e de classe que conformaram o antigo bairro
África, e na presença das transformações na paisagem urbana na região, o chalé dos Silva dos
Santos permanece no mesmo local há 66 anos, reinterpretadas por Andressa, terceira geração
de mulheres, num discurso emocionado, que revela seu engajamento pessoal em projetos
sociais contemporâneos de cunho étnico-racial:
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Eu vejo aquela casa como um sinônimo de resistência. Dentre tantos prédios
chiques e luxuosos, ter aquele chalé ali, dizendo assim: ‘nós estamos aqui,
nós não vamos sair daqui tão cedo’, pra mim, é totalmente emblemático, isso
graças a elas [mãe e avó]. (Informação verbal: Andressa, 03/09/2015)
Com o passar do tempo, casas simples de alvenaria e antigas casas de madeiras deram
lugar a prédios altos e luxuosos, dando uma nova cara ao entorno e se adaptando a
modernização. O bairro, que nos anos 1950, possuía apenas casas, perdeu seu sentido de