FEIRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2015

do mundo do trabalho na sociedade brasileira ao longo do século XX, onde se passa da condição
de inexistência da regularização formal dos vínculos de trabalho feminino no âmbito
do emprego doméstico, a presença insidiosa da estrutura patriarcal das famílias das mais
diversas origens étnicorraciais que tendem a não promover o processo de escolarização e profissionalização
das mulheres, em particular, no caso das famílias negras onde a condição de
vida feminina ainda persevera os estigmas da escravidão ao associar a mão de obra feminina
ao trabalho doméstico.
O ingresso de Dora e, uma geração depois, o de Jussara no mercado de trabalho pela
via do serviço doméstico se deu não apenas em razão da disseminação do estigma associado
ao papel da mulher negra “escrava” de dentro e fora de casa na construção social da vida
urbana e industrial de Novo Hamburgo, atuando como sustentação da estrutura social das
famílias alemãs, do ethos e da visão de mundo vinculada pela indústria coureiro-calçadista em
Novo Hamburgo.
Nas entrevistas realizadas com Dora sobre sua trajetória social no mundo do trabalho
no contexto de Novo Hamburgo, ela fala sobre sua vida como doméstica durante os 15 anos
que trabalhou na casa da família de descendência alemã, a partir do final da década de 1930:
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Ah, escrava, bem dizer. Eles tinham a casa de material, e tinham o banheiro na
rua que era pra empregada, fora da… assim, que nem essa área ali, assim, e
era da empregada. Ali tomava banho, tinha o chuveiro. Eles tinham um dentro
de casa, um banheiro pra eles, tinha o chuveiro tudo dentro de casa... ali era
um puxadinho e ali tinha o banheiro da empregada. Bota comida na mesa pra
eles, eles sentam lá na mesa, come. Depois que eles tão prontos, aí tira as coisas
da mesa e come na cozinha. Aí o que sobrou lá na mesa come na cozinha.
Aí lava louça, limpa a cozinha toda. (Informação verbal: Darcy, 29/08/2015)