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Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

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como prisioneiro dos „selvagens, nus e ferozes devoradores de homens“, integrando-se<br />

desta forma a uma tribo tupi-guarani assentada na zona de Ubatuba, ao<br />

sul do atual Rio de Janeiro.<br />

Com este projeto e a sua realização, o cineasta Luiz Alberto Pereira criou – aliás<br />

com apoio financeiro alemão e português, assim como de várias entidades culturais<br />

do Brasil – uma extraordinária adaptação fílmica de um documento<br />

historiográfico da época dos descobrimentos. Essa é pelo menos a primeira impressão,<br />

também em vista <strong>das</strong> críticas geralmente positivas que surgiram ao redor<br />

do lançamento da obra.<br />

Há duas particularidades que chamam a atenção tanto do filólogo como do<br />

cinéfilo comum, e elas formarão o ponto de partida desta análise: a primeira é o<br />

alto grau de concordância com o texto de Staden – tanto em relação da histoire<br />

como do discours – e a seg<strong>und</strong>a é a óbvia pretensão de autenticidade que apresentam<br />

os diálogos, embora já não se trate de fidelidade ao texto original, mas ao<br />

que foi a suposta realidade histórica. É que os índios se comunicam em tupi antigo,<br />

e o próprio Staden fala – seg<strong>und</strong>o qual for o seu interlocutor – igualmente em<br />

tupi ou em português, ou em alemão moderno quando desempenha o papel de<br />

narrador autobiográfico. Uma terceira questão que merece discussão e resposta<br />

é: por que precisamente a crônica antropófaga deste conquistador alemão, chegou<br />

a ser matéria para um filme prof<strong>und</strong>amente brasileiro, ao qual não faltam<br />

traços de epopéia nacional?<br />

Contudo, nem sequer se trata – como faz crer a comercialização da obra – da<br />

primeira, mas sim da seg<strong>und</strong>a adaptação da História de Staden. Já em 1971, Nelson<br />

Pereira dos Santos produziu uma primeira versão com o título Como era<br />

gostoso o meu francês (How tasty was my little frenchman). É verdade que responde<br />

a um contexto bem diferente, mas é difícil interpretar a seg<strong>und</strong>a versão sem recorrer<br />

a esta primeira.<br />

1. A Verdadeira História de Staden e sua recepção<br />

1.1. Contexto historiográfico: as crônicas da área tupi-guaranítica<br />

A crônica de Hans Staden insere-se num grupo de relatos que se propõem um<br />

registro <strong>das</strong> realidades geográficas, naturais e etnográficas descobertas nas costas<br />

do Brasil e que foram publicados a prazo relativamente curto, embora não por<br />

portugueses nem espanhóis, mas por alemães e franceses:<br />

1557 Hans Staden Warhaftige Historia der wilden, nacketen, grimmigen<br />

Menschfresser-Leuthen<br />

1558 André Thévet Les singularitez de la France Antarctique, autrement nommée<br />

Amérique: et de plusieurs terres et isles decouvertes de nostre temps<br />

1567 Ulrich Schmidel Wahrhafftige Historien einer w<strong>und</strong>erbaren Schiffart<br />

1578 Jean de Léry Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil, autrement<br />

dite Amérique

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