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Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

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integra plenamente na lógica do argumento, porque contribui a caracterizar o<br />

protagonista branco como uma pessoa simpática e leal, e sobretudo livre de preconceitos<br />

raciais, portanto totalmente oposto à imagem negativa do conquistador<br />

europeu tal como é pintado na maioria <strong>das</strong> obras da literatura ou do cinema<br />

que enfocam essa temática.<br />

O insólito conceito do ‚bom conquistador‘ revela-se também em outro acréscimo:<br />

é a cena na qual Staden salva um escravo negro fugitivo de um ataque<br />

armado dos tupinambás e – quem sabe – até de cair vitima da antropofagia deles.<br />

Resulta que aqui os indígenas são mais racistas que o homem branco. O negro<br />

inspira-lhes um horror literalmente infernal, porque vêem nele um espírito diabólico<br />

e acabam entoando uma espécie de canto exorcista. O incidente serve também<br />

para ilustrar a piedade prof<strong>und</strong>amente humanista que distingue o herói e<br />

que no próprio texto se manifesta numa série de reflexões e orações que dificilmente<br />

poderiam encontrar uma realização direta.<br />

O tema religioso é de suma importância no relato de Staden, de modo que se<br />

justifica o fato que seja também um leitmotiv no filme, embora em realização parcialmente<br />

diferente. Staden vence todos os perigos e adversidades – exteriores e<br />

interiores – graças à sua fé protestante que aparece isenta da intolerância, hipocrisia<br />

e agressividade inerentes ao catolicismo de muitos cronistas espanhóis.<br />

Uma conversa sobre questões religiosas que Staden mantém com um prisioneiro<br />

à véspera do sacrifício dele adquire uma dimensão propriamente pastoral (cap.<br />

37). Portanto, se a fé cristã que professa Staden se manifesta de uma forma muito<br />

válida e positiva, a religiosidade dos tupinambás carece de todo atrativo.<br />

No que diz respeito a esta religiosidade, o filme comunica uma visão mais coerente<br />

e diferenciada da que se desprende do próprio livro, e parece como se se baseasse em<br />

resultados de pesquisa da etnologia moderna. No livro, as maracás que os índios usam<br />

em seus rituais são erroneamente interpreta<strong>das</strong> como ídolos, e Staden não chega a<br />

perceber o caráter cerimonial da antropofagia. A postura e o nível de conhecimentos<br />

dos autores do filme são outros: em vez de partir da ignorância em matéria religiosa<br />

que marca o texto da crônica, eles introduzem um elemento que supostamente ilustraria<br />

a ‚autêntica‘ religiosidade dos indígenas. Para isso recorrem ao mito de Jurupari,<br />

de certa relevância no imaginário tupi recuperado no século XX, mas que por mera<br />

especulação se relaciona aqui com a cosmovisão tupinambá do século XVI.<br />

Numa seqüência também acrescentada, um grupo delegado pela aldeia visita um<br />

xamã que vive a certa distância na floresta (HS 21:23). Do seu discurso, infere-se que<br />

Jurupari é concebido como uma deidade ávida de sacrifícios humanos, parecida às<br />

do México antigo. Se bem que essa interpretação de Jurupari, figura mítica conhecida<br />

em toda a zona tupi-guaranítica, 16 etnologicamente não é mais sólida que a explicação<br />

que Staden encontra para as maracás, ela é uma prova de que os criadores do<br />

filme se esforçaram por dar maior prof<strong>und</strong>idade à representação da religiosidade<br />

tupi-guarani, além de impregná-la de uma aparência marcadamente brasileira.<br />

com a namorada quando, já ao final de sua aventura, o seu novo dono Abatipoçanga quer<br />

consignar-lhe outra mulher, e ainda mais de ilustrar o conflito de culturas entre a poligamia<br />

tupi e a monogamia do cristão protestante.<br />

16. „Jurupari é, pois, o antenado lendário, o legislador divinizado, que se encontra como base em<br />

to<strong>das</strong> as religiões e mitos primitivos.“ (CASCUDO 1972: 496, cf. VALENCIA SOLANILLA 2000)

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