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Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

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mos, a língua tupi tem sido objeto de várias ressurreições ao curso do século XX,<br />

e ultimamente no contexto do V Centenário do Descobrimento do Brasil. 20 Quem<br />

contribuiu sobremaneira à restituição de uma língua que se considera parte do<br />

patrimônio nacional é o professor Almeida Navarro, docente na USP e autor de<br />

um Método moderno de tupi antigo muito procurado. Seu aluno e colaborador<br />

Hélder Perri Ferreira é o principal responsável da versão tupi do roteiro e delegou-se<br />

por dois meses para assegurar a iniciação lingüística dos atores antes e<br />

durante a rodagem (DUARTE 2006). No entanto, é de supor que todos os participantes<br />

na empresa eram conscientes de que o tupi antigo ensinado no livro de<br />

Navarro e utilizado na película é uma língua relativamente artificial, uma koinê<br />

que corresponde àquela língua brasílica que só na seg<strong>und</strong>a metade do século<br />

XVI foi sistematizada e normalizada até certo grau pelos Jesuítas (especialmente<br />

por José de Anchieta com sua gramática de 1555). Os índios tupinambás, cuja<br />

língua Staden parece ter aprendido em tempo relativamente curto, falavam<br />

uma entre dezenas de variantes do tronco tupi-guaraní que aparentemente não<br />

se afastava muito dos dialetos guarani falados hoje no Paraguai e por alguns<br />

grupos desta etnia radicados no Sul do Brasil. Efetivamente, quem tiver conhecimentos<br />

do guarani paraguaio moderno, sabendo ao mesmo tempo interpretar<br />

a transcrição germanizante do autor, compreenderá com pouca dificuldade<br />

os fragmentos da edição marburguesa de 1557 (Wicker 2004, p. 83s). Contudo,<br />

para captar o sentido dos diálogos do filme, traduzidos para o tupi antigo, é<br />

preciso ter estudado com o livro de Eduardo Navarro, pois ele forneceu o padrão<br />

lingüístico adotado no roteiro. 21<br />

Não é exagerado dizer que as línguas e seu uso chegam a se tematizar em Hans<br />

Staden: concretiza-se a função do tupi antigo como língua geral quando é usada<br />

não só pelos índios entre si, mas também se serve dela o próprio Staden para<br />

comunicar-se com os comerciantes franceses. Isto se vê claramente na adaptação<br />

do cap. 52 (HS 1:19:45), a qual também revela o valor simbólico da linguagem:<br />

pelo uso do idioma autóctone – para não dizer nacional – Staden torna-se para os<br />

brasileiros um ‚dos nossos‘, enquanto que o capitão da caravela francesa continua<br />

sendo um estrangeiro.<br />

Resumindo: o uso generalizado da língua tupi não resulta somente da intenção<br />

realista, confessado pelo próprio diretor. A decisão de utilizar o idioma indígena<br />

deve ser visto num contexto que lhe atribui um alto valor simbólico para a<br />

identidade cultural e nacional. 22<br />

20. ou jevyr = „está voltando“; sobre a última ‚ressurreição‘ da língua tupi confira-se TUNES 2000<br />

e DUARTE 2006. As questões relaciona<strong>das</strong> com a reanimação do tupi antigo se dedicam a um<br />

fórum bastante ativo na Internet, acessível por .<br />

21. Parece que na versão em alemão moderno preparada por Ulrich Schlemmer (STADEN 1984) os<br />

fragmentos em língua indígena foram copiados de uma edição brasileira. Isto nota-se, por exemplo,<br />

no uso da letra - que não existe em alemão – em substituição de em Staden.<br />

22. A distinção entre línguas tupi e guarani é um fenômeno que tem suas raízes no século XIX.<br />

Sobretudo depois da Guerra do Paraguai (1865-1870) deixa de utilizar-se no Brasil o termo<br />

guarani para designar as línguas autóctones desse tronco comum e generaliza-se a<br />

denominação tupi para referir-se à língua dos “f<strong>und</strong>adores” da nação brasileira. Os próprios<br />

falantes da língua não usavam nem uma, nem outra dessas designações, mas falavam do<br />

ava ñe’ê ou respectivamente do aba nhe’enga (“língua dos homens”).

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