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Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

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4.2. Língua e perspectiva<br />

Contrariamente ao texto original do livro – monolíngüe em alemão, e com um<br />

número reduzido de expressões na língua tupinambá – o filme caracteriza-se por<br />

seu poliglotismo. A grande maioria dos diálogos é em tupi, mas também ouvimos<br />

falar em francês e alemão, e o espanhol está presente em forma escrita numa <strong>das</strong><br />

primeiras cenas. 23 Mais além, em nove ocasiões – sobretudo ao princípio e ao final<br />

– ouve-se do off a voz do narrador, embora com um tipo de discurso ‚teicoscópico‘<br />

que resume acontecimentos alheios à ação principal e que nesta forma não aparecem<br />

no livro.<br />

Consegue-se desta maneira uma objetivação dos sucessos e <strong>das</strong> enunciações,<br />

a qual equivale a uma desconstrução do texto original que, quanto a sua forma<br />

lingüística (alemã) e sua tonalidade religioso-cultural (cristã protestante) apresenta<br />

um caráter homogêneo. Tudo quanto o narrador autobiográfico usurpou<br />

pela escrita e a tradução aos princípios da era colonial, os brasileiros recuperamno<br />

num ato ‚antropofágico‘. Este procedimento, que precisamente transpassa o<br />

que costuma acontecer ao texto literário em qualquer adaptação cinematográfica,<br />

‚devora‘ a perspectiva européia que também Staden ‚o bondoso‘ projeta sobre<br />

o Novo M<strong>und</strong>o, apesar de sua eficaz iniciação à cultura indígena.<br />

Ainda que o leitor moderno também adote, até certo grau, o ponto de vista do<br />

narrador e não o dos índios, sendo demasiado grande a distância cultural e<br />

humana que o separa da cultura canibal, sim se lhe abre um acesso mais direto no<br />

filme: o foco dele situa-se em ‚nossa terra‘ (para dizê-lo com Eduardo Navarro), e<br />

o espectador já não se sente mais perto de Staden – que fala uma língua duplamente<br />

estrangeira (incompreensível e européia) – que dos índios ‚retupizados‘,<br />

que falam uma língua também incompreensível, mas altamente brasileira. Staden<br />

volta à sua condição de intruso, de colonizador, de estrangeiro, homem branco e<br />

pálido em meio a uma colorida turma de futuros brasileiros. Apesar de que presta<br />

seu nome ao filme, ele deixa de ser o verdadeiro protagonista e transforma-se<br />

numa quase-vítima.<br />

4.3. Alteridade?<br />

A artificiosa desconstrução e repatriação de uma crônica da época da conquista,<br />

são suscetíveis de provocar algumas perguntas pertencentes à estética da<br />

recepção e que provavelmente só poderia esclarecer uma sondagem entre os<br />

cinéfilos brasileiros. Contudo, chama a atenção que a obra não soube atrair às<br />

salas mais que um número relativamente reduzido de espectadores 24 , embora<br />

fosse projetada durante 17 semanas, presença prolongada na tela só explicável<br />

pelo apoio institucional.<br />

À falta de dados concretos fica em aberto a questão de quem são, para os<br />

brasileiros, ‚os outros‘ e quem os próprios antepassados culturais. É que eles se<br />

23. „Enquanto isso, procurou um dos companheiros decifrar o escrito, tendo-o conseguido. Aí<br />

estava entalhado em língua espanhola: “Si viene por ventura aquí la armada de Su Majestad,<br />

tiren un tiro y habrán recado“ (cap. 9 / HS 03:15).<br />

24. „Infelizmente a falta de divulgação concedeu ao filme uma bilheteria de apenas 42 mil<br />

espectadores“ (Werneck 2004), cf. Faltam locais de exibição (Revista E 2000).<br />

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