Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

tado por Staden consciente ou inconscientemente. É uma marca importante
do seu estilo narrativo e os realizadores do filme transformaram-no num dos
ângulos de sua técnica, de maneira que seria justificado falar de uma ‚adaptação
lingüística‘ do texto historiográfico.
A sensibilidade do autor e seu talento para tudo que se relaciona com o idioma,
manifestam-se igualmente na rapidez com a qual chega a dominar o dialeto
tupinambá, ou seja, a língua geral de base tupi-guarani, o que lhe permite comunicar-se
sem grandes dificuldades com seus novos donos. Até se serve desta língua
para tratar com os comerciantes franceses. Além disso, comenta explicitamente o
uso da língua e o câmbio de código (code switching). 5
Os estudiosos das línguas tupi-guaraníticas concordam que a obra de Staden,
além disso, possui um valor inigualável como primeira contribuição à filologia
deste ramo, já que o texto contém cerca de uma dúzia de enunciações completas
num dialeto tupi-guarani 6 que, segundo parece, o autor sabia transcrever
com relativa correção e fidelidade e que coloca estrategicamente para marcar
momentos cruciais dentro da narração. Tornou-se famosa aquela frase que ele
mesmo pronuncia, cumprindo forçadamente o ritual antropofágico, logo ao
começo de seu cativeiro: „a Junesche been ermi uramme“ (I, cap. 21) segundo
sua própria transcrição, traduzido corretamente por ele mesmo como „eu, vossa
comida, vou chegando“. Em guarani atual seria „ajúne che pene
rembi’urã(ma)“. No tupi clássico, que constitui o padrão para o roteiro da película,
sai com pequena alteração, mas como hoje em dia é praticamente impossível
averiguar qual foi o dialeto utilizado pelos índios de Ubatuba por volta de
1550, nada contradiz a tese que Staden transcrevesse com grande fidelidade os
trechos de diálogo em língua indígena (cf. WICKER 2004).
1.4. Primeiras imagens do Brasil
Se a Verdadeira História provocou um grande interesse entre o público contemporâneo,
isso se deve também às numerosas xilogravuras com as quais o
editor marburguês fez ilustrar já a primeira edição, muito provavelmente sob a
direção do próprio Staden – ou pelo menos segundo indicações adicionais que
recebeu dele –, pois contêm certas informações que não se podem deduzir do
texto escrito. Sem dúvida, as imagens que representavam o sacrifício dos presos,
a preparação do banquete ritualístico e sua própria realização – quer dizer, tudo
que se relaciona com o canibalismo – eram fatores importantes para uma comercialização
eficaz do livro, e daí se compreende que este tema é muito mais presente
nas ilustrações que no próprio relato. Além disso, elas enfatizam a nudez
5. Confira-se, por exemplo, o episódio no cap. 26 do livro primeiro, onde se comenta uma
situação de ‚trilingüismo‘: „Conduziram-me então nu ao francês. Era um jovem a quem os
índios chamavam Caruatá-uara. Ele falou-me em francês e não pude entendê-lo. Os selvagens
nos rodeavam e ouviam-nos. Como não pude responder-lhe, disse-lhes o francês na língua
dos nativos: Matai-o e comei-o, esse miserável; ele é bem português, vosso inimigo e meu.
Isto entendi eu bem e pedi-lhe portanto, pelo amor de Deus, que lhes dissesse que não me
comessem. Mas ele retrucou: Eles querem comer-te“.
6. Berchem conta „umas 150 palavras e locuções“ (BERCHEM 1996, p. 859), o que parece um
pouco exagerado. Pelo menos o número das frases completas é bastante reduzido.
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