Flüchtlinge und das ‚Aushandeln

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muitos cronistas espanhóis e católicos, cede aqui a uma reflexão quase intimista
sobre o destino individual, a esperança da salvação e, finalmente, a gratidão por
Deus tê-lo salvado efetivamente das caldeiras tupinambás. 2
1.2. A crônica autobiográfica de Staden como romance picaresco
Outro traço específico da Verdadeira História consiste no caráter marcadamente
autobiográfico e narrativo da primeira parte. A segunda parte fornece um panorama
quase enciclopédico de „todos os costumes e usanças dos índios
Tupinambás“, incluindo a geografia, a flora e a fauna, ao passo que os 53 capítulos
do „primeiro livrinho“ correspondem à narração linear das duas viagens que
Staden fez para o Brasil. A grande maioria desta parte é consagrada à segunda
viagem (a partir do cap. 6) e passou a ser – com algumas omissões e modificações
(que por sua parte integram amiúde informações tiradas do segundo livro) – o
argumento do filme.
A crítica moderna, várias vezes tem insistido nas estruturas ‚novelescas‘ que
apresentam algumas crônicas da conquista de América, por exemplo, na obra
de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, cuja história, aliás, também foi adaptada ao
cinema. 3 O mesmo fenômeno observa-se no texto de Staden. Em vista da estrutura
episódica, da condição do herói como ‚servidor de muitos amos‘ e dos
títulos que resumem o conteúdo de cada capítulo, não seria exagerado falar até
de uma semelhança com o gênero picaresco, que estava germinando naquela
época. Também cabe assinalar a ‚visão desde baixo‘ que adota Staden durante
seu cativeiro e que é contrária à ‚perspectiva de conquistador‘, própria à maioria
dos textos deste gênero, incluindo a outra Verdadeira História do seu compatriota
Schmidel.
1.3. Estrutura dialógica e cultura lingüística tupi
Outra característica que talvez só chame a atenção a quem quiser elucidar a
base textual dos diálogos fílmicos, é a alta percentagem que na História de Staden
corresponde ao discurso falado. Este, porém, manifesta-se sobretudo em discurso
indireto, pelo qual pode passar despercebido à primeira leitura. 4 Trata-se
de um elemento estrutural que pode motivar toda uma gama de reflexões e
comentários. Por agora nos limitamos a lembrar que a cultura tupi-guaraní é
considerada, até a atualidade, como uma ‚cultura da palavra‘, na qual as relações
comunitárias se definem pela interação da fala oral e muitas vezes em
forma do discurso ritualizado (cp. MELIÀ 1992, p. 297s). Este fenômeno foi cap-
2. O Livro I finaliza com um „amém“ e uma oração de graças por ter-se salvado do cativeiro dos
canibais. – Todas nossas citações referem-se à primeira edição de 1557, disponível online
tanto em fac-símile como em transcrição. As cifras entre parênteses remetem à numeração
dos capítulos, sempre que não houver referência explícita, à tradução para o alemão moderno
de Ulrich Schlemmer (1984).
3. México/Estados Unidos/Inglaterra 1990, diretor: Nicolás Echevarría.
4. Veja mais abaixo, 3.2. Para completar este artigo pode-se consultar uma apresentação com
materiais adicionais em www.romanistik.uni-mainz.de/guarani/staden/staden.ppt. A folha
7 mostra o fac-símile das páginas 192/193 da edição de 1984, no qual o discurso direto
aparece marcado em cor laranja e o discurso direto em verde.