OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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– Oh! meu Deus!... meu Deus!... exclamou chorando ainda com mais força o<br />
infeliz velho.<br />
Cândido tinha estado muito tempo em pé diante <strong>de</strong> Anacleto, não querendo,<br />
enfim, perturbar aquela dor imensa em que o via engolfado; ia retirar-se, quando ao<br />
ruído <strong>de</strong> suas pisadas na terra o velho ergueu a cabeça.<br />
– Quem é?... perguntou enxugando apressadamente as lágrimas.<br />
– Sou eu, sr. Anacleto, respon<strong>de</strong>u Cândido. Minha curiosida<strong>de</strong> trouxe-me<br />
neste momento ao jardim; retirava-me porém já para não incomodá-lo.<br />
– Incomodar-me!... então eu...<br />
O mancebo ficou em silêncio.<br />
– Chorava?... exclamou Anacleto soluçando <strong>de</strong> novo.<br />
– É verda<strong>de</strong>.<br />
Estiveram ambos por algum tempo sem dizer-se palavra. O velho chorando e<br />
Cândido tristemente observando-o.<br />
– Sim, disse finalmente aquele: tenho chorado... muito, minha cabeça ar<strong>de</strong>...<br />
uma dor <strong>de</strong>spedaçadora parece querer rebentar as fracas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste velho crânio...<br />
o que eu sofro é isso... é uma dor... eu estou doente.<br />
– Oh? então por que não se apressa a medicar-se? eu vou chamar a senhora<br />
sua filha... sobretudo este ar da noite, o sereno po<strong>de</strong> fazer-lhe mal.<br />
– Não... não quero... eu exijo que não chame ninguém... nem mesmo minha<br />
filha. Este ar da noite me faz bem... eu estou melhor, muito melhor; isto vai passar<br />
<strong>de</strong> todo. Basta que eu <strong>de</strong>scanse... vá dançar, preciso ficar só.<br />
Cândido ia retirar-se.<br />
– Escute, tornou o velho: promete-me não dizer a pessoa alguma que eu<br />
estava incomodado?... promete-me?... veja que eu o exijo.<br />
– Pois bem, senhor, nada direi.<br />
– Sobretudo, meu filho, não diga a pessoa alguma que me viu chorando aqui.<br />
Cândido retirou-se.<br />
O velho, sacudindo tristemente a cabeça, disse:<br />
– Moço, se não compreen<strong>de</strong>ste a minha dor, hás <strong>de</strong> compreendê-la um dia; –<br />
és filho; serás pai.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> XX<br />
UMA MULHER QUE MENTE<br />
QUANDO, <strong>de</strong> volta do jardim, Cândido entrou na sala, Mariana e Henrique<br />
conversavam com fogo, e <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong>les Salustiano estava em pé <strong>de</strong> braços<br />
cruzados, como quem espera por alguma coisa.<br />
Cândido não acreditara nas palavras <strong>de</strong> Anacleto; compreen<strong>de</strong>ra que as<br />
lágrimas do velho exprimiam antes um gran<strong>de</strong> sofrimento moral do que uma dor<br />
física; por isso mesmo respeitava o segredo daquele pa<strong>de</strong>cer; mas observava curioso<br />
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