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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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introduzindo a chavinha na fechadura da misteriosa caixa, <strong>de</strong>u uma volta, e o<br />

“coração” <strong>de</strong> Jacó ficou por <strong>de</strong>ntro patente a seus olhos.<br />

A caixa estava cheia <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> todos os tamanhos e <strong>de</strong> toda natureza.<br />

Cartas <strong>de</strong> família, escritos <strong>de</strong> amor, originais <strong>de</strong> antigos impressos, tiras <strong>de</strong><br />

papel com algumas linhas escritas, mas cujo sentido era quase impossível <strong>de</strong>cifrar,<br />

antigos processos... papéis judiciais... e uma multidão imensa <strong>de</strong> outros objetos<br />

enchiam o “coração” <strong>de</strong> Jacó.<br />

O ex-escrivão tinha realmente dado um nome muito significativo àquela<br />

caixa: era o seu “coração”.<br />

Era o coração do homem mau, intrigante, maledicente. Dentro <strong>de</strong>le estavam<br />

os materiais com que ele podia acen<strong>de</strong>r a guerra entre famílias.<br />

Jacó era um malvado, ou para melhor dizer, um miserável malvado.<br />

João não se <strong>de</strong>morou em fazer observações sobre o que tinha diante dos olhos;<br />

foi passando um por um todos aqueles papéis, até que chegou a um processo.<br />

– Ah! ei-lo aqui!... ei-lo aqui!... exclamou sem po<strong>de</strong>r suster-se.<br />

E folheando o processo chegou a um lugar em que havia um documento:<br />

– A letra falsa!... disse.<br />

E como se mais nada lhe importasse do resto; como se houvera completado a<br />

sua missão naquela casa, guardou o processo no largo bolso <strong>de</strong> sua sobrecasaca,<br />

fechou o “coração” do mau, pôs <strong>de</strong> novo o cordão no pescoço <strong>de</strong> Jacó, e indo ao<br />

corredor da casa <strong>de</strong>spertou a escrava, mandou que lhe abrisse a porta da rua e<br />

tomando o chapéu, saiu.<br />

Era mais <strong>de</strong> meia-noite.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XLI<br />

MARIANA<br />

UMA VERDADEIRA guerra <strong>de</strong> emboscadas era a que estava <strong>de</strong>clarada. Cada<br />

um dos combatentes tinha seu segredo, e por ele velava; alguns tinham dois<br />

segredos também: um que fazia alentar, e outro que fazia corar. Outros viviam<br />

suspensos e temerosos, vítimas e inocentes da intriga que fumegava.<br />

João e Rodrigues, senhores das pontas daquela meada embaraçada, velavam,<br />

tendo os olhos fitos em Salustiano e Mariana; mas pareciam guardar ainda para si o<br />

– seu segredo querido, – que era talvez a história <strong>de</strong> Cândido.<br />

Salustiano e Mariana esperavam e tremiam. Tinham que esperar. Ambos<br />

porém tinham ao mesmo tempo <strong>de</strong> corar.<br />

A velha Irias ignorava porventura tudo? parece ao menos que sim.<br />

Anacleto, Cândido e Celina eram aqueles que viviam suspensos e temerosos;<br />

eram eles as vítimas inocentes que se preparavam, porque o primeiro <strong>de</strong>veria chorar<br />

por sua filha, e os dois últimos por seu amor.<br />

Henrique nada temia e tudo esperava. Estava quase a brilhar o dia <strong>de</strong> seu<br />

casamento.<br />

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