OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
– Que novida<strong>de</strong>s há? perguntou João.<br />
– O caso vai-se complicando.<br />
– Então, que temos?<br />
– A tal mulherzinha <strong>de</strong> mantilha obteve do nosso pequeno uma carta para<br />
Celina.<br />
– Bravo! provavelmente o rapaz <strong>de</strong>smanchou-se todo em juramentos <strong>de</strong> amor.<br />
– Ao contrário, <strong>de</strong>clara a nossa “Bela Órfã” que a não ama, e que não quer<br />
iludi-la por mais tempo.<br />
– E esta!... que dizes a isto?<br />
– Fiquei com a cara à banda, João!<br />
– Que disseste à pobre menina?<br />
– Que <strong>de</strong>sconfiasse e que esperasse.<br />
– Realmente foi boa resposta.<br />
– Agora vamos sair, João.<br />
– Para on<strong>de</strong>?<br />
—Tu para casa <strong>de</strong> Jacó, e eu para o “Purgatório-trigueiro”.<br />
– Vamos.<br />
Os dois velhos separaram-se à porta do alpendre. João entrou na casa <strong>de</strong> Jacó,<br />
e Rodrigues foi conversar com a velha Irias.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> XL<br />
O “CORAÇÃO” DE JACÓ<br />
ESTAVA correndo a segunda noite <strong>de</strong>pois daquele dia em que João tinha sido<br />
lançado fora da casa <strong>de</strong> Salustiano.<br />
Eram cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z horas.<br />
Na acanhada saleta <strong>de</strong> jantar da casinha que ficava fronteira ao “Céu cor-<strong>de</strong>rosa”,<br />
estavam três personagens ceando alegremente, sentadas ao redor <strong>de</strong> uma<br />
pequena mesa: eram Jacó, Helena e João.<br />
O antigo agente da casa <strong>de</strong> Salustiano tinha calculado bem com o gênio<br />
interesseiro do ex-escrivão; logo que se separou <strong>de</strong> Rodrigues apresentou-se na casa<br />
<strong>de</strong> Jacó com a bolsa na mão e foi imediatamente recebido e instalado no melhor<br />
quarto da casa.<br />
Logo na primeira noite, João ofereceu a seus hóspe<strong>de</strong>s uma excelente ceia.<br />
Jacó era amigo <strong>de</strong> bom vinho, e Helena, ou por con<strong>de</strong>scendência, ou por que quer<br />
que fosse, gostava <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong> que seu marido gostava. Portanto comeu-se e bebeu-se<br />
até alta noite.<br />
Na que se estava seguindo, repetiu-se a mesma cena.<br />
No entretanto conversavam.<br />
– Mas, como ia fazendo notar, disse João, parece que o <strong>de</strong>stino foi quem<br />
<strong>de</strong>cidiu que nos ajuntássemos; eu fui um dos que cooperaram para sua <strong>de</strong>sgraça, e<br />
portanto era justo que viesse ajudá-lo a sofrê-la.<br />
220