18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Celina ergueu a cabeça nobremente, e fitou os olhos em Salustiano.<br />

– Crê então, que isso chegue a ser verossímil?... perguntou Mariquinhas.<br />

– Não será somente verossímil, tornou Salustiano elevando a voz com incrível<br />

audácia, ha <strong>de</strong> ser também uma realida<strong>de</strong>.<br />

– Bravo!... exclamou Mariquinhas; isto me está parecendo um <strong>de</strong>safio.<br />

– Pois seja um <strong>de</strong>safio; veremos qual dos dois romances se realiza.<br />

– Aceito, disse, levantando-se, a “Bela Órfã”.<br />

O rosto <strong>de</strong> Celina estava aceso <strong>de</strong> rubor e <strong>de</strong> cólera: em pé, ela encarava<br />

Salustiano com olhos cheios <strong>de</strong> fogo.<br />

– Minha senhora... ia murmurando o moço.<br />

– Eu lhe disse que aceito o <strong>de</strong>safio, senhor!... exclamou Celina. Não é bem<br />

claro isto?<br />

Reinou então silêncio por alguns instantes, até que Salustiano <strong>de</strong>spediu-se<br />

com seu sorrir sarcástico nos lábios, e saiu com o <strong>de</strong>sespero e a raiva no coração.<br />

– Bem bom! bem bom! disse Mariquinhas batendo palmas com uma alegria<br />

infantil.<br />

– Fizeste mal, d. Mariquinhas.<br />

– Pois sim... concedo, fiz mal; porém tu, d. Celina, fizeste muito bem.<br />

– E agora?... quem sabe o que me espera?...<br />

– Que nos importa o futuro? o futuro é <strong>de</strong> Deus.<br />

– Mas eu preciso que me animem; eu sou fraca e sou só.<br />

– Vem portanto animar-te... subamos ao segundo andar.<br />

– Para quê?...<br />

– Vamos ler <strong>de</strong> novo a história do teu amor.<br />

– Oh!... sim!... tu és louca como eu, d. Mariquinhas; mas o que acabas <strong>de</strong><br />

dizer <strong>de</strong>ve ser verda<strong>de</strong>.<br />

– Vamos pois...<br />

– Vamos.<br />

As moças subiram a escada correndo, como duas crianças travessas; entraram<br />

no quarto <strong>de</strong> Celina... abriu-se a gaveta on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria estar a história do amor da<br />

“Bela Órfã”...<br />

– Os meus papéis!... exclamou esta.<br />

– Que há então?... perguntou Mariquinhas.<br />

– Eu os tinha posto aqui.<br />

– É certo..<br />

– Oh!... furtaram-mos!...<br />

– Meu Deus!...<br />

– Os meus papéis!... a minha história!... exclamou dolorosamente a “Bela<br />

Órfã”.<br />

– Como po<strong>de</strong> ser isto?...<br />

– On<strong>de</strong> estarão eles?...<br />

– Quem entraria aqui?... perguntou Mariquinhas.<br />

– Eu não sei... eu não podia ver!... o que eu sei, o que eu vejo é que estou<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!