18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Espirituosa; todos apoiaram, e também eu.<br />

– E que mais?...<br />

– Inconquistável; todos o afirmaram, menos eu.<br />

– Menos o senhor?!<br />

– Sim, minha senhora; eu <strong>de</strong>clarei que não havia mulher <strong>de</strong> quem algum<br />

homem se não pu<strong>de</strong>sse fazer amado.<br />

– E disse bem, porque eu amo meu marido.<br />

– Perdoe-me; é que eu me não referia ao marido <strong>de</strong> V. Exa.<br />

– Ah! senhor!... isso agora...<br />

– Minha proposição foi geralmente combatida.<br />

– Fizeram-me justiça.<br />

– Mas eu fui por diante; sustentei quanto havia dito e jurei <strong>de</strong>monstrá-lo.<br />

– E como, senhor?...<br />

– Fazendo-me amado <strong>de</strong> V. Exa.<br />

A senhora morena olhou espantada para o insolente que assim lhe falava e<br />

encontrou fitos em seu rosto dois olhares frios, mas impassíveis.<br />

– Senhor!... disse ela com voz alterada.<br />

– Jurei, prosseguiu o mancebo, que conseguiria isso hoje mesmo.<br />

– É incrível tanta ousadia!...<br />

– E que em sinal <strong>de</strong> minha vitória levaria no meu peito o cravo que está aí<br />

ornando o <strong>de</strong> V. Exa.<br />

– Eu tenho pena do senhor, porque realmente me parece um pobre louco.<br />

– Pena tenho eu <strong>de</strong> V. Exa., disse o mancebo apertando o braço da senhora.<br />

Porque eu hei <strong>de</strong> daqui a pouco aparecer com esse cravo no meu peito; e daqui a<br />

pouco V. Exa. há <strong>de</strong> na sala que <strong>de</strong>ixamos, pelo menos, fingir-se dócil a meus<br />

cumprimentos e grata a meus extremos.<br />

– Cometi uma imprudência em aceitar o braço <strong>de</strong> um fátuo que não conhecia,<br />

respon<strong>de</strong>u com nobre altivez a senhora; mas o senhor vai já levar-me a meu lugar, se<br />

não quiser ver retirar-me só, e dizer em voz alta que qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> homem se atreveu<br />

a oferecer-me o braço.<br />

– Tanta fereza!...<br />

– Senhor... tornemos à sala... aliás...<br />

– Pois bem... V. Exa. ouvirá primeiro duas palavras, e <strong>de</strong>pois... veremos.<br />

-----------------------------------------------------------------------------------<br />

No fim <strong>de</strong> meia hora os dois entraram na primeira sala.<br />

O cravo que ornava o peito da senhora, tinha passado para o do mancebo. Ele<br />

estava radiante; ela muito pálida.<br />

Henrique quando viu o cravo rajado no peito do atrevido moço, <strong>de</strong>ixou-se cair<br />

em uma ca<strong>de</strong>ira, como fulminado por um raio.<br />

Depois, passada uma hora, ergueu-se, e Carlos chegou-se a ele.<br />

– Então, Henrique, preten<strong>de</strong>s ainda bater-te amanhã?...<br />

– Não Carlos; mas parto para França no primeiro navio que <strong>de</strong>r à vela.<br />

-----------------------------------------------------------------------------------<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!