18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

--------------------------------------------------<br />

O que é sonho?... é verda<strong>de</strong> ou quimera!...<br />

O que é sonho?... é a alma que vela,<br />

Que vagando por mais alta esfera<br />

Do porvir os arcanos revela?...<br />

O que é sonho?... futuro sem véu?...<br />

O que é sonho?... – mistério do céu.<br />

Mas que é feito da virgem, do pobre?...<br />

Já o dia voltou – Vou dizer:<br />

Seu amor <strong>de</strong>nso véu inda cobre;<br />

Que ele ama não posso escon<strong>de</strong>r;<br />

Porém teme... receia... não diz;<br />

Porque é pobre, por isso infeliz.<br />

E a donzela formosa, inocente,<br />

Inda livre, inda isenta <strong>de</strong> amor,<br />

A ninguém ganhar <strong>de</strong>la consente<br />

De seu sonho um botão,., uma flor;<br />

Pois no rubro virgíneo botão,<br />

Julga ver seu feliz coração.<br />

E o mancebo, que tinha tentado<br />

A paixão, que nascia, abafar,<br />

Hoje a ela <strong>de</strong> todo curvado<br />

Está com os olhos no céu a clamar:<br />

“Quem não fora nascido; – ou então<br />

“Quem colhera o terceiro botão!...”<br />

Longo tinha sido o cantar do velho, e durante todo ele mil e diversas<br />

sensações havia experimentado a “Bela Órfã”.<br />

Um segredo <strong>de</strong> seus mais belos dias, o primeiro romance <strong>de</strong> sua alma <strong>de</strong> moça<br />

estava revelado.<br />

Quem o revelara?<br />

E sobretudo havia ali naqueles versos a expressão e a confissão <strong>de</strong> um amor<br />

profundo mas temeroso... era o poeta que amava a bela.<br />

O primeiro pensamento <strong>de</strong> Celina foi perguntar ao velho Rodrigues o nome<br />

do autor daquele romance; corando porém diante <strong>de</strong> sua consciência <strong>de</strong> virgem<br />

hesitou...<br />

O velho estava em pé diante <strong>de</strong>la com seus olhos pequenos, porém<br />

penetrantes, fitos em seu rosto, e obrigando-a a abaixar a cabeça.<br />

Enfim, Rodrigues rompeu o silêncio.<br />

– Está triste, senhora?...<br />

75

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!