OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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voz grave e solene, disse:<br />
– Não te assiste o direito <strong>de</strong> vingar aquela senhora.<br />
– Como?... não sou amigo <strong>de</strong> seu marido?...<br />
– Sim; porém o tens ofendido <strong>de</strong>z vezes mais que o estouvado mancebo que<br />
falava há pouco.<br />
– Ofendido?... eu?... <strong>de</strong> que modo?...<br />
– Henrique, tu amas a mulher do teu amigo.<br />
Henrique estremeceu vivamente, e <strong>de</strong>pois respon<strong>de</strong>u em voz baixa, apertando<br />
a mão <strong>de</strong> Carlos:<br />
– É verda<strong>de</strong>; mas sei amá-la em segredo.<br />
No entretanto continuavam a gracejar no círculo que pelos dois jovens havia<br />
sido <strong>de</strong>ixado.<br />
– Pois bem, disse o leviano, vou vingar-me nobremente daquele assomado<br />
mocinho, que daqui saiu há pouco.<br />
– E por que meio?...<br />
– Trabalhando por tornar a nossa rainha um pouco menos merecedora <strong>de</strong> sua<br />
<strong>de</strong>dicação e entusiasmo.<br />
– É uma empresa um pouco difícil.<br />
– Eu a reputo bem simples.<br />
– E então?...<br />
– Vou requestá-la.<br />
– Quando começa?...<br />
– Boa pergunta... já!<br />
– Para ser repelido.<br />
– É provável que não; e para o mostrar... eis-me em campo. A<strong>de</strong>us... rezem<br />
por mim...<br />
– Uma palavra ainda...<br />
– O que temos?...<br />
– Uma concordata: se alcançar vitória, trar-nos-á uma violeta do buquê que<br />
ela cheira neste momento.<br />
– Não; uma violeta é bem pouca coisa: trarei no meu peito aquele cravo, cujo<br />
pé <strong>de</strong>ve estar fazendo cócegas terríveis na axila da nossa bela.<br />
– Está dito.<br />
– A<strong>de</strong>us, pois... e outra vez rezem por mim.<br />
O presumido mancebo foi direito até a ca<strong>de</strong>ira em que se achava sentada a<br />
senhora morena.<br />
– Minha senhora, disse ele, eu vinha <strong>de</strong>clarar a V. Exa. que sou um<br />
consumado traidor.<br />
– Sinto, senhor, não po<strong>de</strong>r louvá-lo por isso.<br />
– Estava ali com aqueles senhores falando mesmo a respeito <strong>de</strong> V. Exa.<br />
– É possível.<br />
– Julguei que V. Exa. estimaria saber o que dizíamos.<br />
– Enganou-se; sou bem pouco curiosa. Se eram elogios, não sabendo <strong>de</strong>les,<br />
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