OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
hora.<br />
– Senhor!...<br />
– Depois <strong>de</strong> amanhã, às cinco horas e meia da tar<strong>de</strong>.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> X<br />
HISTÓRIA DO BOTÃO DE R<strong>OS</strong>A<br />
EM LUGAR <strong>de</strong> ir com as duas amigas para o toilette, que era mesmo no<br />
primeiro andar, a “Bela Órfã” guiou-as para o segundo, e entrou com elas em seu<br />
quarto.<br />
Anacleto, levando sempre pela mão a Cândido, subiu também a escada, e<br />
entrou pé ante pé com o mancebo no quarto <strong>de</strong> Mariana.<br />
As duas câmaras eram apenas separadas por uma <strong>de</strong>lgada pare<strong>de</strong>, e uma<br />
portinha as comunicava pelo fundo. A portinha estava simplesmente tapada com um<br />
leve reposteiro, ou melhor, com uma cortina <strong>de</strong> seda cor-<strong>de</strong>-rosa <strong>de</strong>bruada <strong>de</strong> fita<br />
azul.<br />
O velho levou o moço ao fundo da câmara, e com precaução e cuidado correu<br />
a cortina. O quarto <strong>de</strong> Mariana não tinha luz. No <strong>de</strong> Celina ardiam três velas em um<br />
can<strong>de</strong>labro <strong>de</strong> bronze.<br />
Cândido viu primeiro um leito virginal <strong>de</strong>fendido por cortinados <strong>de</strong> cassa<br />
branca, e através <strong>de</strong>les três moças encantadoras, cujas elegantes formas se<br />
<strong>de</strong>senhavam ainda na sombra.<br />
E não pô<strong>de</strong> ver mais nada, porque Celina começava a falar.<br />
A “Bela Órfã” pronunciou algumas breves palavras; mas olhando para as duas<br />
amigas e lendo-lhes no rosto a curiosida<strong>de</strong> com que estavam, corou, e hesitando,<br />
disse:<br />
– Ora... é uma puerilida<strong>de</strong>... um sonho <strong>de</strong> criança, que parece loucura contar.<br />
– Não, não, d. Celina; conte sempre.<br />
– Há <strong>de</strong> ser por força muito bonito.<br />
– Sem dúvida; pois que além <strong>de</strong> tudo, é um sonho com flores.<br />
Celina, com os olhos pregados no colo, principiou a contar a história do botão<br />
<strong>de</strong> rosa.<br />
– Foi no dia em que eu fiz treze anos: jantaram e passaram a noite comigo<br />
duas companheiras <strong>de</strong> colégio, ambas dois anos mais velhas do que eu. D. Luisinha<br />
e d. Leopoldina. Leopoldina era viva como você, d. Felícia; Luisinha maliciosa<br />
como você, d. Mariquinhas.<br />
– Obrigada pelo elogio, disse esta.<br />
– Deixe-a falar, acudiu Felícia.<br />
Celina continuou.<br />
– Três moças que se conhecem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, que brincaram juntas, e<br />
juntas estudaram, têm sempre tantas coisas para se dizer, que a certa hora nós nos<br />
escapamos da sala, e fugimos para conversar sem testemunhas, escondidas no meu<br />
49