18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Basta. É tempo <strong>de</strong> nos irmos.<br />

– Quando nos veremos outra vez?<br />

– Amanhã não po<strong>de</strong> ser: há reunião extraordinária no “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”; faz<br />

anos a “Bela Órfã”.<br />

– Seja <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã.<br />

– Pois bem: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã; a<strong>de</strong>us.<br />

Separaram-se os dois velhos. João sumiu-se voltando o canto da rua da Ajuda.<br />

Rodrigues atravessou os mesmos largos e ruas por on<strong>de</strong> tinha vindo, e entrou no<br />

alpendre do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”.<br />

Jacó, <strong>de</strong>sesperado e furioso por não ter podido conseguir apanhar uma única<br />

frase da longa conversação dos dois velhos, voltou para sua casa em um verda<strong>de</strong>iro<br />

estado da ebulição.<br />

– Então, exclamou Helena apenas o viu entrar; que foi fazer o coruja?...<br />

– Encontrar-se na portaria do convento da Ajuda com outro coruja, como ele,<br />

e com quem falou mais <strong>de</strong> uma hora.<br />

– Sobre quê, meu caro Jacó?...<br />

– São dois monstros, dois sicários, dois <strong>de</strong>mônios...<br />

– Então...<br />

– Eu não pu<strong>de</strong> ouvir nada; falaram em segredo; respon<strong>de</strong>u Jacó <strong>de</strong>satando<br />

profundíssimo suspiro.<br />

Oh! malvados!... exclamou Helena.<br />

E naquela noite os vizinhos <strong>de</strong> Jacó e <strong>de</strong> Helena foram mais que nunca<br />

vítimas da mordacida<strong>de</strong>, das calúnias <strong>de</strong>sse par sem igual.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XVIII<br />

A NOITE DE AN<strong>OS</strong><br />

ERA A NOITE dos anos da “Bela Órfã”; noite <strong>de</strong> festa no “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”,<br />

e que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong> inocentes gozos para os numerosos convidados, que enchiam<br />

aquela feliz habitação.<br />

Além da casa, que estava toda brilhante <strong>de</strong> luzes, o jardim tão querido <strong>de</strong><br />

Celina achava-se também iluminado, e patente àqueles que quisessem aí passear.<br />

Não havia certamente no “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa” o luxo <strong>de</strong>slumbrante das festas<br />

dos milionários, que gastam; em compensação, porém, o bom gosto transpirava em<br />

tudo.<br />

Mariana ostentava sua beleza tão especial, tão <strong>de</strong>slumbradora, tão perigosa.<br />

Celina, que era como a princesa da festa, levava, sem querer, sem pensar,<br />

vantagem sobre a bela tia.<br />

Uma simplicida<strong>de</strong> feiticeira presidira, como sempre, o seu toucador. Seus<br />

longos cabelos estavam atados com graça indizível, mas tão pouco trabalho pedia<br />

aquele penteado, que adivinhava-se para logo que era o resultado da <strong>de</strong>streza <strong>de</strong> suas<br />

mãozinhas; agradava ainda mais por isso. Um pouco para o lado esquerdo <strong>de</strong> sua<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!