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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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– Restava sabermos se ele tremeria do mesmo modo falando a qualquer <strong>de</strong><br />

nós outras, acudiu a maliciosa Mariquinhas.<br />

– Por quê?...<br />

– Porque se não tremesse, tiraríamos uma bela conseqüência.<br />

– Ma1iciosa!... disse Felícia, enquanto Celina fazia-se um pouco corada.<br />

O piano chamou os pares à sala.<br />

– Nunca houve piano que tocasse mais a propósito, tornou Mariquinhas.<br />

Celina estava me contando, sem querer, umas poucas <strong>de</strong> coisas no rubor <strong>de</strong> suas<br />

faces.<br />

– Ah! d. Mariquinhas!...<br />

– Cuidado comigo... não hei <strong>de</strong> tirar os olhos <strong>de</strong> você, enquanto dançamos.<br />

Dançou-se a segunda quadrilha.<br />

Era a primeira vez que Cândido dançava ao lado <strong>de</strong> Celina. Uma mistura <strong>de</strong><br />

prazer e <strong>de</strong> acanhamento, <strong>de</strong> satisfação imensa e <strong>de</strong> como dúvida do gosto <strong>de</strong> tão<br />

gran<strong>de</strong> ventura, dava ao rosto do mancebo uma expressão nova, bela e interessante.<br />

Acrescente-se a isso a perturbação <strong>de</strong> Celina, que se sentia <strong>de</strong>vorada pelos<br />

olhos curiosos <strong>de</strong> Mariquinhas, e conceber-se-á a sensação que experimentavam os<br />

dois quando suas mãos se encontravam, quando se viam dançando <strong>de</strong>fronte um do<br />

outro, esses dois jovens, uns dos quais não sabia dizer se amava, e o outro não<br />

compreendia ainda talvez o que era amor.<br />

Em silêncio ambos, <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> uma e outra vez tentou Cândido encetar alguma<br />

conversação. Tudo se terminava em breves monossílabos pronunciados a tremer por<br />

qualquer dos dois.<br />

A segunda quadrilha terminou; e no correr da terceira teve princípio um<br />

episódio que ocupou por alguns momentos a atenção da socieda<strong>de</strong>.<br />

Em um passo mais rápido que Celina <strong>de</strong>via fazer, caiu-lhe do cabelo um botão<br />

<strong>de</strong> rosa, que foi a tempo apanhado pelo seu cavalheiro <strong>de</strong> vis-à-vis.<br />

Terminada a quadrilha, o cavalheiro dirigiu-se à “Bela Órfã”, e mostrando-lhe<br />

o botão <strong>de</strong> rosa, disse:<br />

– Na Inglaterra, minha senhora, os gran<strong>de</strong>s fidalgos quando jogam, <strong>de</strong>sprezam<br />

o dinheiro que lhes cai no chão, e que enfim fica pertencendo ao criado mais feliz<br />

que primeiro o apanha. Levantei este botão <strong>de</strong> rosa que lhe caiu quando dançava; e<br />

dar-me-ei por extremamente venturoso se dispensar a flor que rolou a seus pés.<br />

– Oh! é impossível! exclamou Celina com voz apaixonada; o meu botão <strong>de</strong><br />

rosa!.. não... <strong>de</strong> modo nenhum...<br />

– Devo crer que a minha pouca ventura...<br />

– Não <strong>de</strong>ve crer em nada... pouco ou muito feliz, teria sempre <strong>de</strong> ouvir a<br />

mesma coisa.<br />

– Ah! compreendo: não quer dar flores a moço<br />

– O meu botão <strong>de</strong> rosa?... nem a moças.<br />

– A sua melhor amiga...<br />

– Não conseguiria arrancar-mo.<br />

– Portanto este botão <strong>de</strong> rosa...<br />

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