18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

indizível o moço.<br />

– Paciência, disse Anacleto; resta-me ao menos a convicção <strong>de</strong> que nunca o<br />

ofendi voluntariamente, e que fiz tudo o que estava <strong>de</strong> minha parte para provar-lhe a<br />

estima em que o tenho.<br />

O velho ergueu-se pesaroso e quase ressentido.<br />

Cândido apertou-lhe a mão com ardor, e disse:<br />

– Não me <strong>de</strong>sestime por isto... creia que o que faço, é o que <strong>de</strong>vo fazer; creia<br />

que o que eu disse, é o que eu <strong>de</strong>via somente dizer... e o senhor, que é um dos<br />

poucos homens cuja mão me tem sido oferecida com lealda<strong>de</strong> e franqueza, sinta por<br />

mim antes pieda<strong>de</strong> do que ressentimento.<br />

– Serei o mesmo sempre; respon<strong>de</strong>u o velho dispondo-se para sair.<br />

– Uma palavra ainda.<br />

– O quê?... perguntou Anacleto.<br />

– É um novo obséquio que lhe quero pedir. Provavelmente minha ausência<br />

tem admirado também a sua família<br />

– Sem dúvida.<br />

– Eu lhe rogo que em meu nome lhe ofereça minhas <strong>de</strong>sculpas, e em<br />

particular à senhora sua filha. Quisera que ela tivesse conhecimento da obsequiosa<br />

visita que recebi: do que se passou entre nós, e do que enfim julguei <strong>de</strong>ver<br />

respon<strong>de</strong>r, explicando o meu procedimento.<br />

O velho olhou para Cândido como <strong>de</strong>sconfiado do motivo <strong>de</strong>sta última<br />

recomendação.<br />

– E a ela, e a todos, senhor, que possam mostrar-se curiosos das causas <strong>de</strong><br />

minha irrevogável resolução, poucas palavras bastam para explicá-la, e para arredar<br />

<strong>de</strong> sua pessoa e <strong>de</strong> sua família a menor suspeita <strong>de</strong> uma ofensa ainda involuntária<br />

feita a mim, é <strong>de</strong> sobra dizer: “ele completa a sua sina – só... sempre só –”.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XXVI<br />

DUAS AMIGAS<br />

ERA na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo.<br />

Anacleto e Mariana, obrigados a ir fazer uma visita <strong>de</strong> etiqueta, tinham<br />

acabado <strong>de</strong> sair para voltar antes <strong>de</strong> duas horas.<br />

Celina e Mariquinhas subiram ao segundo andar e entraram no quarto da<br />

primeira.<br />

Sentaram-se <strong>de</strong>fronte uma da outra, junto da pequena mesa sobre a qual<br />

escrevera a “Bela Órfã” no dia antece<strong>de</strong>nte.<br />

Estavam ambas as moças vestidas <strong>de</strong> branco, e eram ambas muito bonitas.<br />

Celina, porém, mostrava-se meio perturbada e confusa; apoiou o cotovelo na mesa,<br />

<strong>de</strong>scansou o rosto na face palmar da mão, e fechou um pouco os olhos como se<br />

quisesse dormir.<br />

Era Mariquinhas três anos mais velha que a “Bela Órfã”, tinha <strong>de</strong>zenove anos;<br />

143

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!