OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
em nome <strong>de</strong> sua mãe!...<br />
– A senhora não é criminosa, disse Cândido tristemente; é infeliz...muito<br />
infeliz.<br />
– Mas o plano do monstro falhou. Apesar da sua ausência Celina o aborrecia<br />
como dantes, quando hoje...<br />
– Hoje... repetiu Cândido.<br />
–É preciso que eu diga tudo. Eu caso-me, senhor, ou pelo menos <strong>de</strong>verei<br />
casar-me antes <strong>de</strong> oito dias. Pois hoje Salustiano se apresenta em minha casa, e dizme:<br />
“o meu! casamento com sua sobrinha seguirá <strong>de</strong> perto ao seu: eu o exijo! Se<br />
não...<br />
... Oh! com estas palavras é que ele termina sempre.<br />
– É incrível!... exclamou Cândido.<br />
– Minhas observações, minhas súplicas, minhas lágrimas o não comoveram; e<br />
formalmente or<strong>de</strong>nou-me que eu viesse aqui pôr-me <strong>de</strong> joelhos a seus pés, e pedirlhe,<br />
senhor, como lhe peço, que salve a meu pai, e que me salve!<br />
– Salvá-la? e como?...<br />
– Oh! é preciso ter muita coragem para pedir o que eu peço! é um sacrifício...<br />
mas estou <strong>de</strong> joelhos...<br />
– Diga, senhora.<br />
– O seu amor é que me mata! exclamou Mariana. Celina e o senhor me<br />
per<strong>de</strong>m...<br />
– Ah! meu Deus! bradou Cândido apertando a cabeça com as mãos, porque<br />
acabava <strong>de</strong> adivinhar o que se lhe ia pedir.<br />
– A carta fatal será minha, prosseguiu Mariana, se o senhor quiser <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />
aparecer a Celina por um mês ao menos, e escrever-lhe um bilhete mentindo,<br />
senhor!... mentindo... matando-se...<br />
– Diz bem... matando-me...<br />
– Oh! por pieda<strong>de</strong>! exclamou a viúva abraçando-se com as pernas do<br />
mancebo; por compaixão! pelo amor <strong>de</strong> sua mãe!... não me <strong>de</strong>ixe assim morrer<br />
<strong>de</strong>sonrada...<br />
– Senhora... mas eu hei <strong>de</strong> dizer que não amo a esse anjo <strong>de</strong> beleza e<br />
candura... a essa pomba celeste?...<br />
– Senhor... senhor... eu tenho arrastado meu rosto pela terra, que pisam os<br />
seus pés... eu peço misericórdia!<br />
– Sacrificar... cooperar para que se sacrifique uma virgem cheia <strong>de</strong> encantos e<br />
virtu<strong>de</strong>s a um monstro... oh! é um crime!<br />
– E eu? e eu então!...<br />
– É um castigo! a Providência pune <strong>de</strong> mil maneiras neste mundo. Se eu<br />
pu<strong>de</strong>sse sofrer só, senhora, para dar-lhe todo sossego, toda ventura que <strong>de</strong>seja, eu<br />
sofreria sem hesitar; mais uma moça inocente! enganá-la, e enganá-la quando<br />
apenas foi hoje que comecei a acreditar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um futuro, que seria a<br />
vida do paraíso?!<br />
– Oh! pois bem, disse com voz concentrada e terrível a viúva; nada <strong>de</strong><br />
194