18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– E o que concluis tu do que se passou?...<br />

– Que <strong>de</strong>ntro em pouco as portas do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa” serão fechadas ao<br />

moço pobre.<br />

– E nada mais?...<br />

– Concluo também que o outro sabe pelo menos meta<strong>de</strong> do que nós sabemos.<br />

– Ainda bem que ele sabe só meta<strong>de</strong>; creio que não gostará quando vier a<br />

saber o resto.<br />

– João, para mim é claro que a – décima segunda – existe em po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>le.<br />

– É realmente a melhor maneira <strong>de</strong> explicar aquela misteriosa influência.<br />

– E tu, nada absolutamente tens conseguido?<br />

– Nada.<br />

– É pena; porque enfim, po<strong>de</strong> ser que essa arma com que ele joga, acabe por<br />

fazer muito mal ao nosso plano.<br />

– Que queres?... tenho trabalhado muito; mas sempre em vão. Já corri e<br />

examinei um por um, todos os papéis da casa.<br />

– E nada?...<br />

– E nada; falta-me só a carteira velha do <strong>de</strong>funto.<br />

– Quem guarda as chaves?..<br />

– Ele, que <strong>de</strong> ninguém as confia.<br />

– Diabo! é nessa: tem um segredo no fundo da primeira gaveta do lado<br />

esquerdo.<br />

– Lembro-me bem.<br />

– E então que fazes?...<br />

– Que faço! o que tu farias: espero.<br />

– Esperar é quase sempre o maior <strong>de</strong> todos os castigos.<br />

– E que remédio, Rodrigues? a carteira está em seu quarto <strong>de</strong> dormir, e ele<br />

quando sai leva sempre a chave; parece que escon<strong>de</strong> ali um gran<strong>de</strong> tesouro.<br />

– Não se engana; mas hás <strong>de</strong> roubá-lo.<br />

– Esperemos.<br />

– Calaram-se por alguns momentos os dois velhos. Estiveram ambos<br />

pensando, e <strong>de</strong>pois disse Rodrigues:<br />

– Ora dize, João, não parecemos dois <strong>de</strong>cididos inimigos do tal sujeito?<br />

– Às vezes quer me parecer que sim: pelo menos praticamos como tais.<br />

– Não... não... isso não: ouve; se fosse preciso, eu <strong>de</strong>ra o resto <strong>de</strong> minha vida<br />

para fazê-lo verda<strong>de</strong>iramente feliz.<br />

– Às vezes quase que não merece nada. Foi, e será sempre <strong>de</strong>senfreado<br />

extravagante.<br />

– O seu fundo porém é bom. Suce<strong>de</strong> <strong>de</strong> ordinário assim com todos os<br />

extravagantes.<br />

– Po<strong>de</strong> ser que tenhas razão.<br />

– Ultimamente não se tem portado tão loucamente, como dantes.<br />

– Descansa para recomeçar.<br />

96

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!