18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– Embora...<br />

– Procurar ser feliz é ao mesmo tempo um <strong>de</strong>ver do homem.<br />

– Quando há esperança.<br />

– E quem não a tem?... quando foi que ela nos abandonou?... eis-me aqui<br />

velho e cansado... eis-me aqui à borda do túmulo com os olhos fitos em Deus, e uma<br />

esperança no coração.<br />

O mancebo olhou para o velho.<br />

– Sim! não se admire. Uma gran<strong>de</strong> esperança, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta virão ainda<br />

outras. Uma gran<strong>de</strong> esperança, a <strong>de</strong> ver feliz minha filha.<br />

– Sua filha! repetiu Cândido.<br />

– E então não é uma nobre esperança?<br />

– Bem doce!<br />

– E quem lhe diz que não terá ainda uma igual?...<br />

– Eu não; eu hei <strong>de</strong> completar o meu <strong>de</strong>stino. Fui arrojado do mundo com<br />

<strong>de</strong>sprezo... quando abri os olhos, abri-os entre os estranhos... não conheço os meus;<br />

eu sou – só; – compreenda bem esta palavra, sr. Anacleto; é uma palavra, um nome<br />

<strong>de</strong> duas letras que revela toda a minha história, o meu passado, o meu presente, e o<br />

meu futuro – só! – completarei a minha sina. Farei a viagem do mundo sem um<br />

companheiro do meu sangue – só!... sempre só!...<br />

E como se essa palavra tivesse realmente a significação que lhe ele dava,<br />

como se ela fosse a sua divisa, Cândido ainda uma vez repetiu com voz sonora e<br />

profundamente melancólica:<br />

– Só! – sempre só!<br />

Mostrou-se Anacleto impaciente; e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> coçar a cabeça por vezes,<br />

tornou:<br />

– Não temos feito nada, meu caro. Vim aqui saber a razão por que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

ir à minha casa <strong>de</strong> um modo tão singular; e já temo bem retirar-me sem levar<br />

explicação alguma.<br />

– Porventura não tenho eu dito bastante? esse ato é filho <strong>de</strong> uma<br />

excentricida<strong>de</strong> minha.<br />

– E no entanto o que pensarão <strong>de</strong> nós ambos os nossos amigos?...<br />

– Os seus amigos po<strong>de</strong>m pensar o que quiserem a meu respeito: para mim é<br />

isso indiferente.<br />

– E para mim?...<br />

– O senhor lhes dirá que eu sou um louco, que me con<strong>de</strong>no a um inferno que<br />

eu mesmo tenho criado para atormentar-me. O senhor lhes dirá se quiser: “Aquele<br />

moço tem uma cabeça <strong>de</strong>sarranjada, <strong>de</strong>ixa a nossa socieda<strong>de</strong> agradável...<br />

obsequiadora e feliz, pela solidão e pelo isolamento: ele quer estar só... sempre só”.<br />

– E se eu lhe rogasse que <strong>de</strong> novo freqüentasse a minha casa?... tomasse parte<br />

nos nossos prazeres?... fosse <strong>de</strong> novo um <strong>de</strong> nossos mais constantes companheiros<br />

dos serões?...<br />

– Eu teria o imenso pesar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r servi-lo, respon<strong>de</strong>u com tristeza<br />

142

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!