18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Celina já se havia esquecido dos dois mancebos... e pensava sobre o romance<br />

que nessa tar<strong>de</strong> lhe havia cantado o velho Rodrigues...<br />

Cândido lembrava-se do que ainda há pouco tinha ouvido da velha Irias.<br />

Não conversavam... não se diziam palavra... fechava a boca <strong>de</strong> ambos esse<br />

pudor angélico do primeiro amor; mas o primeiro amor diz tudo no seu eloqüente<br />

silêncio, diz mil vezes mais do que em seus longos discursos dizem esses amores<br />

velhos, gastos, que já não têm originalida<strong>de</strong> nem pureza, e que falam muito porque<br />

sentem pouco.<br />

O primeiro amor respira virtu<strong>de</strong> e castida<strong>de</strong>: é a exalação do sentimento puro<br />

e santo que Deus soprou em nossa alma... exalado esse, os outros são feios<br />

arremedos, que nunca se po<strong>de</strong>m parecer com ele.<br />

O primeiro amor não fala... quase que não olha: suspira e treme; mas nessa<br />

linguagem muda diz muito... diz tudo.<br />

Cândido e Celina não falaram, mal se olharam; suspiraram porém, tremeram.<br />

Ao crepúsculo recolheram-se ambos ao caramanchel, on<strong>de</strong> Anacleto e Irias<br />

conversavam ainda.<br />

Em todo passeio Celina só observou um fenômeno: quando sua mão tocava<br />

menos <strong>de</strong> leve o braço <strong>de</strong> Cândido, o mancebo estremecia involuntariamente.<br />

Cândido pô<strong>de</strong> apenas notar, que se alguma vez seus olhos encontravam os <strong>de</strong><br />

Celina, a moça corava muito, e mostrava-se enleada.<br />

E no fundo do coração ambos se haviam perguntado, o mancebo, por que era<br />

que aquela moça corava?... a moça, por que era que aquele mancebo tremia?...<br />

Eles se amavam.<br />

As quatro personagens <strong>de</strong> que temos falado, <strong>de</strong>ixaram enfim o Passeio<br />

Público.<br />

Quando <strong>de</strong> volta se achavam exatamente <strong>de</strong>fronte do “Purgatório-trigueiro”,<br />

um carro puxado por dois cavalos brancos se <strong>de</strong>spedia do portão do “Céu cor-<strong>de</strong>rosa”,<br />

e passou perto <strong>de</strong>les.<br />

– O carro do sr. Salustiano, disse a velha Irias.<br />

A noite escon<strong>de</strong>u um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>speito, e um olhar <strong>de</strong> cólera que<br />

escaparam ao velho Anacleto.<br />

Entraram todos quatro no “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XV<br />

O SENHOR E A ESCRAVA<br />

MEIA HORA <strong>de</strong>pois que Anacleto e Celina tinham saído para se dirigirem ao<br />

Passeio Público, um carro parou junto do alpendre do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”, e Salustiano<br />

apeou-se <strong>de</strong>le.<br />

Mariana, que o recebeu, estava só na sala.<br />

Apresentou-se Salustiano com ar triunfante; a filha <strong>de</strong> Anacleto estava pelo<br />

contrário pálida, mas com semblante <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso.<br />

82

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!